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“Marinha mais antiga do mundo tem 705 anos e é portuguesa”, destaca-se nas redes sociais

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Há quem diga que já conta 900 anos, outros apontam para 700 e pico, mas a verdade é que nem esse intervalo retira à Marinha Portuguesa o título de "mais antiga do Mundo". Publicação de 30 de agosto, no Facebook, conta até a história deste setor das Forças Armadas (FFAA), que terá começado "com a constituição do Condado Portucalense e a posterior independência do Reino de Portugal", inícios do século XII. O Polígrafo confere.

“Sabia que a Marinha mais antiga do mundo tem 705 anos e é portuguesa?”, questiona-se numa publicação de 30 de agosto, difundida no Facebook a par de uma ilustração de embarcações portuguesas. “O registo e a data da criação formal da Marinha, conferindo-lhe um carácter permanente, foi em 1317. A história começa com a constituição do Condado Portucalense e a posterior independência do Reino de Portugal”, pormenoriza o autor do texto.

Num recuo ao passado, é então na primeira metade do século XII, em 1139, que “acontece a Batalha de Ourique”, sucedida em 1140 pela condecoração de Afonso Henriques como “Rei dos portugueses”. Três anos depois, no dia 5 de outubro de 1143, “D. Afonso Henriques assina com Afonso VII de Leão e Castela o Tratado de Zamora, documento que reconhece a soberania portuguesa” e, no dia 23 de maio de 1179, “a independência de Portugal foi reconhecida pelo Papa Alexandre III, com a Bula pontifícia Manifestis Probatum”.

A História serve aqui de pouco, senão para fazer uma ode aos “Descobrimentos” e para provar que “Portugal foi um país de homens corajosos, que se aventuraram e descobriram grande parte do mundo. Um país e povo de grandes feitos, muito rico e poderoso”. Em comparação, Portugal é hoje “um país pobre e dependente de esmolas e empréstimos, governado e destruído por uma classe política miserável, sem um pingo de honra, integridade, humildade e qualquer respeito pelo seu povo e história de um país quase milenar”, acusa-se no post que rapidamente se torna num apelo aos portugueses e numa crítica ao Estado.

“Grande parte do povo esqueceu a sua história, a coragem que o moveu no passado e a dignidade que o caracterizou e destacou do resto do mundo. Responsabilizo publicamente a classe política que tem governado o país, indivíduos que compuseram a Assembleia da República, executivos camarários e todos os responsáveis de cargos públicos nas últimas décadas, assim como as organizações e interesses obscuros que se movimentam nos bastidores, sem que o povo perceba”, afirma ainda o autor, apelando a que os portugueses “despertem” já que “está na hora de recuperar a nossa honra e reconstruir Portugal”.

Deixando de parte os dois últimos parágrafos do post em análise, conferimos se a Marinha Portuguesa é ou não a mais antiga do mundo, recorrendo à confirmação dada por parte da mesma.

Para isso, basta recuar até ao primeiro dia de fevereiro deste ano, quando esta organização completou 705 anos. Para celebrar, uma publicação nas redes sociais:

“No dia 1 de fevereiro de 1317, há precisamente 705 anos, foi celebrado o acordo entre o rei D. Dinis e o genovês Manuel Pessanha para este servir a Armada Portuguesa. A Marinha existe desde o nascimento do País, há quase novecentos anos, onde, ao longo da sua história, se registam ações de defesa e de proteção desde o início da nacionalidade. Contudo, a assinatura deste contrato, em 1317, é vista como o registo e a data da criação formal da Marinha, conferindo-lhe um carácter permanente. Por esse motivo é considerada a mais antiga do mundo.”

Não restam muitas dúvidas, até porque Portugal é mesmo um dos países mais antigos do mundo (segundo a data da sua independência), mas o Polígrafo consultou a idade de outras marinhas que competem com a portuguesa. Em Espanha, por exemplo, a “Armada Española” terá sido fundada (não há uma data estabelecida) pouco depois, devendo rondar os 600 anos. Esta marinha é seguida de perto pela “Koninklijke Marine“, nos Países Baixos, com 534 anos, e pela “Marinen“, na Suécia, que ronda os 500 anos de existência.

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Avaliação do Polígrafo:

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