“As prestações ao banco estão 50% mais caras no último ano, a renda dos novos contratos subiu quase 30% em Lisboa e 30% no Porto. Uma renda média em Lisboa custa duas vezes o salário mínimo nacional (SMN)“, começou por argumentar esta quinta-feira (21 de setembro) na AR a coordenadora nacional do Bloco Esquerda, Mariana Mortágua.
Para ajudar às contas, Mortágua destacou também a cidade do Porto, onde a renda média “custa mais que uma vez e meia o SMN“. “Há estudantes a desistir do ensino superior, há gente a ser despejada das suas casas, há gente desesperada porque não tem onde viver, onde planear a sua vida, onde ter filhos. E o programa que o Governo apresentou não resolve nenhum destes problemas”, frisou.
Não é novidade para ninguém que os preços de uma renda na capital portuguesa subiram para níveis históricos, mas será que uma renda média custa atualmente 1.520 euros, ou seja, dois salários mínimos nacionais (760 euros)?
De acordo com a Casafari, uma base de dados “destinada aos profissionais do mercado imobiliário que agrega e centraliza toda a informação disponível online”, as zonas caras de Lisboa escalaram até aos 28 euros/m², tendo por base dados de janeiro de 2023 até julho de 2023. “Mesmo os bairros tradicionalmente acessíveis aumentaram em média para 14 euros/m²“, indica a plataforma.
Assim, partindo de um exemplo de um apartamento pequeno de 50 m², o custo de uma renda numa das zonas mais caras fixa-se em 1.400 euros. Numa zona mais acessível, o preço situar-se-ia nos 700 euros. Considerando, porém, um apartamento T2 de 70m², os preços passavam a variar entre os 980 euros e os 1.960 euros.
Por sua vez, um estudo da Century21 Portugal que avaliou 2.285 transações, os valores médios de arrendamento dispararam 13,6% face aos 992 euros registados no primeiro semestre de 2022 e fixaram a média nacional nos 1.127 euros.
“No concelho de Lisboa, a subida do valor médio de arrendamento foi ainda mais acentuada, com a renda média a aumentar cerca de 15% para os 1.463 euros”, sublinha-se no relatório. O valor fica próximo do indicado por Mariana Mortágua.
Questionada sobre a origem dos dados apontados pela deputada, fonte do BE apontou que estes resultam de uma notícia publicada no segmento “Imobiliário” do jornal “Público“. Neste artigo, citam-se os últimos dados do Índice de Rendas Residenciais da Confidencial Imobiliário sobre preços de transação e contratos de arrendamento de imóveis residenciais.
Segundo apurou o Sistema de Informação Residencial (SIR) da Confidencial Imobiliário, “uma renda média dos novos contratos de arrendamento celebrados em Lisboa no segundo trimestre deste ano de 18,6 euros/m², ou seja, um valor médio por casa de 1.532 euros/m²”.
Portanto, “os apartamentos T0 e T1 que foram arrendados em Lisboa neste trimestre tinham uma renda média de 1.164 euros, 1.491 euros no caso dos T2“. Já “nas tipologias de maior dimensão, a renda média contratada chegou aos 1.951 euros nos T3 e 2.147 euros nos T4”.
No que ao Porto diz respeito, “a renda média contratada no período em análise foi de 15,2 euros/m², traduzindo um valor médio por fogo de 1.247 euros. “Nos apartamentos T0 e T1, a renda praticada nos contratos celebrados no segundo trimestre ascendeu a 864 euros, enquanto nos T2 se fixou em 1.371 euros. Os novos arrendamentos de T3 registaram uma renda média de 1.630 euros e os de T4 de 1.953 euros”, lê-se no artigo.
Em suma, Mortágua tem razão quando afirma que uma renda média custa cerca dois salários mínimos nacionais, mas há que ter em conta que este custo diz respeito a casas com mais m², ou seja, apartamentos de tipologia T2 e superiores.
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Avaliação do Polígrafo: