Na "Grande Entrevista" à RTP, emitida na noite de 31 de maio, questionada sobre "que temas é que a sua liderança vai colocar na agenda de modo a recuperar o eleitorado perdido", Mariana Mortágua começou por ressalvar que não pensa na política "em termos de eleitorado. Não vou escolher este tema porque dá mais eleitorado e aquele tema porque dá mais eleitorado. Eu olho para o país e vejo… E o Bloco olha para o país e tenta perceber quais são os problemas que precisam de uma solução. E é isso que rege as prioridades".

"A primeira prioridade é a habitação", afirmou depois a nova líder do Bloco de Esquerda. "Todos os temas são importantes e nós temos conseguido sempre mostrar que, havendo prioridades, nenhum tema fica para trás. E acho que o Bloco tem conseguido, nós chamamos a isso fazer a luta toda - ir a todas as causas, não esquecer nenhuma. Mas a habitação é uma das causas essenciais".

Posto isto, o jornalista perguntou: "E que soluções é que o Bloco tem para a habitação?"

"Bastantes. Depende do problema que queremos resolver. Nós sabemos duas coisas. Os preços da habitação duplicaram. Hoje ter uma casa em Lisboa, por exemplo, é mais caro do que em Madrid ou em Milão. E isto alastra-se por outros pontos do país - Braga, Évora, Alentejo -, os preços estão exorbitantes em qualquer lado", respondeu Mortágua.

"Temos um problema com o Turismo", prosseguiu a bloquista. "Em 2023 vai abrir um novo hotel a cada cinco dias. Em Lisboa há freguesias que têm 60% de Alojamento Local. Quer dizer que seis em cada 10 casas são Alojamento Local e isto sem contar com hotéis e outro tipo de empreendimentos".

É verdade que "em 2023 vai abrir um novo hotel a cada cinco dias"?

No âmbito de um artigo publicado na edição de 23 de março do jornal "Expresso", o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Bernardo Trindade, proferiu a seguinte declaração: "Prevê-se a abertura de mais 65 hotéis em Portugal em 2023 e vai ser necessária mão-de-obra para acudir a essa situação."

Destacando que o setor do Turismo conta com cerca de 450 mil trabalhadores, Trindade sublinhou que "perdeu 45 mil registos na Segurança Social durante a pandemia que ainda não conseguiu recuperar, quando entretanto abriram novos hotéis ou restaurantes, e tudo isso requer mão-de-obra. O Turismo lidera os crescimentos salariais, as empresas estão num esforço grande para conseguir pessoal, mas é um equilíbrio precário".

  • Mortágua: "Mais de 1,7 milhões de utentes sem médico de família e 7 em cada 10 vagas ficaram por preencher no último concurso"

    Ao discursar hoje na XIII Convenção do Bloco de Esquerda, a favorita à sucessão de Catarina Martins na liderança do partido denunciou "quatro irresponsabilidades do Governo", no contexto de um "espetáculo horroroso" resultante da "maldição que é o poder absoluto". A primeira irresponsabilidade consiste na "degradação do SNS" e, nesse âmbito, Mortágua sublinhou que há "mais de 1,7 milhões de utentes sem médico de família. Pois terminou esta semana um concurso para essa especialidade, em que 7 em cada 10 vagas ficaram por preencher".

"Os 65 novos hotéis em 2023, segundo contas da AHP, são um fator a agravar a falta de trabalhadores já sentida no mercado. O grupo Pestana, o maior em Portugal, com um portefólio de 108 hotéis, está em fase de contratar pessoal também para duas novas unidades a abrir este ano em Lisboa: uma pousada em Alfama, no início de abril, e um hotel na Rua Augusta, em maio", informou na altura o jornal "Expresso".

Ora, para atingir a média de um novo hotel por cada cinco dias (do total de 365 dias do ano de 2023), teriam que abrir 73 novos hotéis. A previsão da AHP em março fica um pouco aquém: média de um novo hotel por cada 5,6 dias.

No entanto, há uma outra estimativa, da consultora Cushman & Wakefield, que em dezembro de 2022 apontou para "75 inaugurações de hotéis em 2023".

"Seguramente que será um dos anos em que vamos observar mais hotéis a abrir em Portugal, de Norte a Sul do país. Não é normal crescer 75 hotéis todos os anos. De facto, é um número extraordinário", salientou então Gonçalo Garcia, diretor da área de hotelaria da Cushman & Wakefield em Portugal.

A estimativa de 75 novos hotéis supera até - ligeiramente - a média de um novo por cada cinco dias do ano de 2023. E mesmo a estimativa de 65 novos hotéis está muito próxima da média indicada por Mortágua. Pelo que aplicamos o carimbo de "Verdadeiro" na alegação em causa.

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