“Questione-se: 1º teste – positivo; 2º teste – inconclusivo; 3º teste – negativo; 4º teste – positivo; 5º teste – negativo; 6º teste – positivo. Estes são os resultados de um jovem entre quatro que foram passar férias aos Açores. Os outros três nunca foram contagiados pelo amigo que sempre esteve com eles”, descreve-se na mensagem da publicação.
Logo a seguir questiona-se: “Será que esse jovem foi avaliado clinicamente? Apresentava sinais e sintomas da doença? Foi feito Rx do tórax? TAC pulmonar? A contagem dos linfócitos no hemograma? Se não foi, se pura e simplesmente foi posto em isolamento, como são tantos, então houve grave violação da legis artis porque tendo sido considerado infetado, logo doente, não foi devidamente observado nem tratado. Como interpretar estes resultados laboratoriais?”
Confirma-se que a margem de erro dos testes à Covid-19 é superior a 80%?
Em Portugal, os testes de despistagem do novo coronavírus são efetuados de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) publicou aliás um guia para definir os critérios dos testes à doença, no qual se garante que são “seguros e fiáveis”. Nesse documento indica-se também onde se pode fazer a colheita para o exame e quais os procedimentos do mesmo.
“A decisão da realização do teste só é válida após a avaliação clínica dos profissionais de saúde que estão habilitados para a fazer”, sublinha-se no documento. Os testes podem ser realizados no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – o laboratório de referência nacional -, em laboratórios hospitalares ou na rede complementar de laboratórios privados e em postos de colheita disponíveis na comunidade.
Para se chegar a um diagnóstico indica-se que seja feita uma recolha de amostras do nariz e da garganta. Ou seja, “é recolhida uma amostra de produto (exsudado) nasal (nasofaringe) ou da parte posterior da garganta (orofaringe), ou ambas, usando uma “espécie de cotonete” (zaragatoa)”, explica-se no documento.
O nível de sensibilidade dos testes é importante, na medida em que permite concluir se um paciente está ou não infetado com o SARS-CoV-2. Em artigo publicado na revista Science conclui-se que a maioria dos testes têm uma sensibilidade de 50% a 90%. De acordo com a mesma fonte, uma em cada duas pessoas pode vir a receber um diagnóstico errado.
No dia 23 de maio, a ministra da Saúde, Marta Temido, garantiu que os testes com diagnóstico errado eram “casos muitíssimo limitados”. A governante reagia assim às notícias dando conta de que alguns testes a jogadores de futebol da Primeira Liga Portuguesa tinham resultado em falsos positivos. Por seu lado, o laboratório Unilabs, responsável por esses testes, assegurou que a margem de erro era muito baixa, cerca de 3%.
“O teste tem 97% de especificidade e 83% de sensibilidade”, garantiu a empresa, negando a ocorrência de quaisquer falhas nos procedimentos.
Ao jornal “Público”, Ricardo Mexia, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, explicou que os falsos positivos podem advir da “contaminação de amostras”. Já um falso negativo pode ocorrer se o teste não tiver sido realizado de maneira correta – a utilização incorreta da zaragatoa faz com que não seja recolhida amostra suficiente para a análise. O especialista defendeu então que “não há razões para uma desconfiança generalizada” quanto aos resultados, pois os testes em Portugal são feitos por “laboratórios certificados”.
A possibilidade de um falso negativo também aumenta caso os testes sejam realizados logo no início da infeção pelo novo coronavírus, segundo um estudo da Universidade Johns Hopkins, Baltimore, EUA. Quando a investigação foi publicada na revista Annals of Internal Medicine, uma das médicas que participou na mesma, Lauren Kucirka, defendeu que “independentemente de uma pessoa ter ou não sintomas, um teste negativo não garante que essa pessoa não esteja infetada”. Além disso, “a forma como se reage ou se interpreta um teste negativo é muito importante, porque se colocam outras pessoas em risco quando se assume que o teste é perfeito”.
As falhas na sensibilidade dos testes podem estar relacionadas com o facto de os meios de diagnóstico apresentarem defeitos. Em março, o Governo de Espanha foi obrigado a devolver à China um lote de 58 mil testes rápidos que tinham uma precisão de 30% em vez de 80%. As autoridades chinesas alegaram que o Governo de Espanha tinha comprado os testes a uma empresa sem licença. Questionado pelo Polígrafo, o Governo de Portugal revelou que nenhum dos testes encomendados pelo Ministério da Saúde à China provinha da Bio-easy.
No dia 10 de junho, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) anunciou a recolha de um lote de testes rápidos, depois de terem sido detetados dois falsos negativos. Nessa altura, o Infarmed revelou que o fabricante justificara os problemas com o facto de “o lote fazer parte da produção inicial do teste e, por isso, não incluir as melhorias entretanto introduzidas para aumentar a sua sensibilidade e especificidade”.
A taxa de sensibilidade dos testes para a Covid-19 é elevada, mesmo que seja impossível garantir sucesso nos resultados a 100%. Defeitos nos testes, contaminação ou má recolha de amostragens podem alterar os resultados do diagnósticos. E nenhum destes elementos está relacionado com a margem de erro original do teste.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: