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Marcelo Rebelo de Sousa é “o Presidente do quinto país mais corrupto do mundo”?

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Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Circulam pelas redes sociais diversas publicações denunciando que Portugal foi classificado como "o quinto país mais corrupto do mundo", entre as quais uma que se baseia na imagem do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, atribuindo-lhe a seguinte citação: "Sinto-me orgulhoso de ser o Presidente do quinto país mais corrupto do mundo". Verdade ou falsidade?

A citação é evidentemente falsa, pelo que vamos colocar o enfoque na alegada classificação de Portugal num suposto ranking mundial de corrupção.

Não é a primeira vez que o Polígrafo sinaliza esta alegação como sendo fake news (pode ler ou reler aqui). De facto, quase todas as publicações detectadas remetem para um estudo da consultora Ernst & Young sobre fraude e corrupção em 38 países que “coloca Portugal na quinta posição dos mais corruptos“.

Mas esse estudo foi apresentado em 2015 e a conclusão de que Portugal é “o quinto país mais corrupto do mundo” não se confirma.

“Dos trabalhadores portugueses inquiridos – de um universo de 3.800 entrevistados, de 38 países da Europa Ocidental e de Leste e do Médio Oriente, Índia e África – 83% concordam que as práticas de suborno/corrupção acontecem de uma forma generalizada em Portugal”, noticiou a Agência Lusa, a 16 de junho de 2015. “Na Croácia são 92% dos entrevistados que têm essa crença, sendo o país com pior resultado, enquanto na Bélgica são 34%, na Alemanha 26% e na Finlândia 11%, sendo a Dinamarca o país com melhor desempenho no inquérito, com apenas 4% dos inquiridos nacionais a defender que as práticas de suborno e corrupção são generalizadas”.

“‘No último ano e meio, Portugal tem sido fustigado por casos de corrupção. Por isso, os entrevistados terão mais propensão para responder positivamente’ a questões relacionadas com corrupção e fraude, afirmou Pedro Cunha, da Ernst & Young, na apresentação dos resultados do inquérito. […] Dos inquiridos em Portugal, 61% consideram que existiu uma distorção de resultados financeiros das empresas e apenas 28% consideram a ética empresarial da sua organização como ‘muito boa’. Contudo, 25% dos inquiridos em Portugal acredita ter existido uma melhoria na ética empresarial da sua empresa nos últimos dois anos”, acrescenta-se na mesma notícia.

Além da questão da data, importa salientar que o estudo da Ernst & Young não contabiliza os casos de corrupção registados em Portugal e nos restantes 37 países analisados. Também não procura apurar o nível de corrupção nesses países, através de dados estatísticos. O estudo baseia-se nos testemunhos de 3.800 entrevistados, ou seja, foca-se na percepção da corrupção dos entrevistados. Pelo que concluir a partir deste estudo que Portugal é o quinto país mais corrupto do mundo (ainda que se trate apenas de um conjunto de 38 países) não tem fundamento e induz em erro.

A fonte mais credível para aferir sobre o grau de corrupção que caracteriza um país é o Índice de Percepção de Corrupção, um relatório divulgado anualmente pela organização Transparência Internacional. De acordo com o mais recente, (disponível aqui), em 180 países e territórios analisados, Portugal situa-se na 30ª posição, numa tabela em que a Dinamarca ocupa a primeira posição (correspondente ao país menos corrupto do mundo). No último lugar da lista está a Somália que, numa escala que vai de zero (altamente corrupto) a 100 (nada corrupto), obtém apenas 10 pontos.

***

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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