Na entrevista de ontem (9 de março) à RTP e jornal "Público", questionado sobre se "os padres suspeitos de abusos sexuais, pelo menos aqueles que fazem parte da lista apurada pela comissão independente, deviam ser suspensos preventivamente", Marcelo Rebelo de Sousa respondeu da seguinte forma:

"Isso é óbvio. A posição da Conferência Episcopal foi uma desilusão. Ficou aquém em todos os pontos que eram importantes. Ficou aquém no tempo: demorou 20 dias a reagir numa coisa que era imediata. Depois comunicou que iria continuar a reflectir por mais dois meses. Ficou aquém ao não assumir a responsabilidade. Para mim, é o mais grave, pois se qualquer associação desportiva, cultural, qualquer instituição social, IPSS, Misericórdia responde pelos actos que são individuais e legais e criminais dos seus membros, como é que não responde a Igreja Católica por actos praticados por alguém, que, além de invocar o múnus da fé, é representante de uma Igreja, certificado, legitimado, mandatado para falar sobre uma sua missão pastoral? Como? É incompreensível!"

É verdade que "a Conferência Episcopal demorou 20 dias a reagir" ao relatório sobre abusos sexuais na Igreja?

De facto, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) recebeu no dia 12 de fevereiro o relatório final da comissão independente que, no último ano, investigou os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal.

"A entrega decorreu (...) nas instalações da Conferência Episcopal Portuguesa e contou com a presença de toda a equipa de trabalho da comissão independente", anunciou em comunicado a CEP, uma estrutura que congrega o conjunto dos bispos das dioceses de Portugal.

Segundo reportou a Agência Lusa na altura, o documento final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa foi entregue à presidência da CEP, composta pelo presidente, D. José Ornelas, pelo vice-presidente, D. Virgílio Antunes, e pelo secretário, padre Manuel Barbosa. Depois da sua entrega à CEP, o relatório final da comissão, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que começou a recolher testemunhos em 11 de janeiro do ano passado, será apresentado na segunda-feira de manhã (dia 13 de março) em Lisboa.

  • Este vídeo prova que Marcelo Rebelo de Sousa mentiu sobre discurso de Lula da Silva no 25 de Abril?

    Confrontado com o polémico anúncio do ministro dos Negócios Estrangeiros de que Lula da Silva iria discursar nas comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República, o Presidente da República garantiu que "não tinha conhecimento". Entretanto propagou-se nas redes sociais um vídeo que capta uma conversa em que Rebelo de Sousa parece convidar Lula da Silva a "juntar a visita a Portugal ao Prémio Camões e ao 25 de Abril... 25 de manhã, sessão no Parlamento". Esse diálogo prova que está agora a mentir?

Exatamente 19 dias após ter recebido o relatório final, a CEP reuniu-se em Fátima a 3 de março para analisar o documento. "Era esperado o anúncio de medidas imediatas por parte da hierarquia católica, nomeadamente o afastamento de padres, mas para já nada foi anunciado nesse sentido. A 'novidade' foi o memorial na Jornada Mundial da Juventude", informou a SIC Notícias.

"A CEP decidiu realizar um gesto público de pedido de perdão às vítimas de abuso sexual na Igreja Católica no próximo mês de abril, em Fátima, no decorrer da próxima Assembleia Plenária do episcopado", noticiou. "Hoje [dia 3 de março] reunidos em Assembleia Plenária extraordinária para analisar o relatório da Comissão Independente para o estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica em Portugal, apresentado no dia 13 de fevereiro, a CEP reafirmou, também, o 'firme propósito de tudo fazer para que os abusos não se voltem a repetir'".

"É ao encontro das vítimas que (…) queremos ir para que o seu sofrimento não fique calado", declarou o padre Manuel Barbosa, vincando que "sem vós não teria sido possível chegar ao dia de hoje, obrigado". Mais, pedindo "com dor e novamente, perdão a todas a vítimas sexuais no seio da Igreja Católica", reiterou "tolerância zero para com abusadores" e reafirmou "o propósito para que os abusos não ser voltem a repetir".

"Porém, e ao contrário do que se esperava, o documento aprovado hoje pela CEP tem poucas medidas concretas para fazer face aos abusos", sublinhou a SIC Notícias. "A CEP garante, apenas, que 'o processo de reflexão e discernimento iniciado vai continuar, nomeadamente na próxima reunião do Conselho Permanente e na Assembleia Plenária', em abril. Isso mesmo acabaria por ser confirmado depois por D. José Ornelas".

Confirma-se assim que a CEP demorou 19 dias (quase "20 dias") a reagir ao relatório sobre abusos sexuais na Igreja e que "depois comunicou que iria continuar a refletir por mais dois meses", tal como notou Rebelo de Sousa na entrevista. Selo de "Verdadeiro" nesta alegação.

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