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Com o PRR atrasado, recorda-se no Facebook que Marcelo, agora “calado”, passou “raspanetes” ao anterior Governo. É verdade?

Política
O que está em causa?
Nas redes sociais, depois de o Executivo de Luís Montenegro pedir uma reprogramação do PRR, há quem acuse Marcelo, agora "calado", de ter "criticado sem piedade" ministros socialistas por causa das metas de execução do PRR. Confirma-se?
© António Cotrim/Lusa

Este sábado, o Governo anunciou a submissão do pedido de reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] à Comissão Europeia. Num comunicado, o executivo explicou que o pedido foi feito no sentido de garantir “a adaptação dos investimentos aos prazos exigidos e minimizando o risco de incumprimento, o que poderia resultar na perda de verbas”.

Entre várias reações ao pedido de reprogramação, há nas redes sociais quem critique não só a postura do Governo, mas também a do Presidente da República. “O Presidente Marcelo que, na vigência do anterior Governo, não perdia o ensejo de passar raspanetes e ameaçar ministros e ministras, por causa do PRR… agora, perdeu de todo o pio!…”, lê-se numa publicação de Facebook. No X (antigo Twitter) há quem diga que Marcelo “criticava sem piedade” ministros socialistas por causa do cumprimento de metas do PRR e quem diga, também, que “agora nem se vê, nem se ouve”.

Desde que Portugal recebeu o primeiro pagamento do PRR, a 3 de agosto de 2021, várias foram as instâncias em que Marcelo Rebelo de Sousa se mostrou receoso em relação à execução do plano no tempo previsto.

O episódio que gerou mais polémica aconteceu a 5 de novembro de 2022, quando o Presidente da República adotou um tom particularmente duro em palavras dirigidas à então ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa. “Verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que deve ser”, começou por afirmar o Presidente em declarações transmitidas pela RTP que acabaram por se tornar bastante polémicas: “Nesse caso eu não lhe perdoo. E há milhares de testemunhas daquilo que eu estou a dizer hoje. Espero que esse dia nunca chegue, mas estarei atento para o caso de chegar.”

Momentos mais tarde, questionado por jornalistas acerca do “recado”, Marcelo não negou: “Sim, eu deixei [um recado]. Estava a pensar no PRR”. O Presidente da República acabou por esclarecer, no mesmo dia, que apesar de ter dirigido as palavras à ministra, tal foi “uma forma de dizer o +Governo´”.

Até à queda do Governo de maioria absoluta de António Costa, que cessou funções em 2024, Marcelo foi sublinhado várias vezes a necessidade de acelerar a execução do plano. Mas nem sempre responsabilizou o executivo pelo suposto atraso. Aliás, a 14 de fevereiro de 2023, o chefe de Estado chegou mesmo a recusar tal cenário. Questionado pelos jornalistas sobre se a culpa pelos atrasos seria do Governo, respondeu, em declarações transmitidas pela RTP3: “Não diria que a culpa é do Governo”. 

Com a passagem de pasta entre Governos – e ainda que não se tenham verificado episódios como o que envolveu Ana Abrunhosa – os recados acerca da suposta lentidão na execução do PRR não cessaram.

Em julho, numa visita à fábrica automóvel da Stellantis, em Mangualde, distrito de Viseu, o Presidente defendeu que “da mesma maneira que com a Stellantis foi possível ter 51% de cumprimento num ano, é preciso que no PRR a taxa de cumprimento se aproxime de 51% e os ultrapasse largamente, que não temos todo o tempo do mundo”. Acrescentou ainda que “o Estado tem de por os olhos na Stellantis, de tal maneira que em todos os setores, onde o dinheiro está disponível ou vai estar mais disponível ele possa chegar aos destinatários finais”, em declarações transmitidas pela TVI.

Na última mensagem de ano novo, o Presidente voltou a sublinhar a urgência de acelerar a execução do PRR. “Precisamos que os dezasseis mil milhões do PRR que temos para gastar nos próximos dois anos, sejam mesmo usados e façam esquecer os seis mil e trezentos milhões que gastámos, que usámos, no mesmo tempo ou ainda maior, até hoje”.

A 17 de janeiro, na conferência “O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter”, que marcou o 160.º aniversário do “Diário de Notícias”, Marcelo não só voltou a dizer que o PRR “está muito atrasado” como afirmou, citado pelo “DN”, que seria “um quase milagre que aquilo que não se fez em três anos” ficasse concluído a tempo.

Ou seja, apesar de ser verdade que Marcelo confrontou por várias vezes o Governo PS com a execução do PRR, é de notar que o Presidente também o fez, ainda que menos pessoalizado, com a equipa de Luís Montenegro.

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Avaliação do Polígrafo:

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