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Marcelo é o “presidente europeu mais viajado de sempre” e o segundo ao nível mundial, acusa-se nas redes sociais

Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
As viagens de Marcelo Rebelo de Sousa (e outros dirigentes políticos) são um tema recorrente nas redes sociais. O Presidente da República é muitas vezes acusado de viajar em alturas críticas para o país, desde logo nas épocas de incêndios florestais. Desta vez aponta-se para a suposta 98.ª viagem desde 2016, mas será que esse número fundamenta as alegações de que estamos perante "o presidente europeu mais viajado de sempre e o segundo presidente mundial com mais viagens ao estrangeiro"?

“Enquanto Portugal ardia, enquanto milhares e milhares de famílias agonizavam em miséria, ele, Marcelo Rebelo de Sousa, impávido e sereno preparava já a sua 98.ª viagem ao estrangeiro, sendo por isso o presidente europeu mais viajado de sempre e o segundo presidente mundial com mais viagens ao estrangeiro“, destaca-se em publicação de 25 de agosto no Facebook.

“Chamar a este parasita Presidente… Honestamente, eu chamo de esbanjador de dinheiros públicos e, consequentemente, mais um traidor parasita da pátria. Quatrocentos milhões de euros deve o Governo às corporações de bombeiros e anda o Marcelo a desbundar dinheiro públicos”, acusa-se.

Publicações como esta nas redes sociais intensificaram-se em 2019, quando Marcelo Rebelo de Sousa completava três anos na Presidência da República. Nessa altura, o Polígrafo verificou que, de acordo com a agenda oficial da Presidência da República, o chefe de Estado já tinha realizado 57 viagens a 34 diferentes países desde que tomara posse do cargo, a 9 de março de 2016.

Além disso, notava-se que o Presidente da República tinha viajado várias vezes até aos mesmos países, nomeadamente Espanha (oito viagens), França (sete), Estados Unidos da América (cinco), Brasil (quatro), Itália (três), Cabo Verde (duas), Rússia (duas), Angola (duas), Bélgica (duas), Grécia (duas) e São Tomé e Príncipe (duas).

Ora, com o tempo entretanto decorrido, três anos depois, como estarão as contas referentes às viagens presidenciais? Será que Rebelo de Sousa manteve o ritmo dos anos anteriores?

Segundo um novo levantamento do Polígrafo, até ao momento, Rebelo de Sousa já efetuou um total de 96 viagens (a última das quais ao Brasil, esta semana), mais 39 desde 2019. Entre os países visitados, os mais recorrentes continuam a ser Espanha e França, com os Estados Unidos da América a ocuparem também uma posição cimeira na lista de nações mais visitadas pelo Presidente da República.

Apesar de este valor rondar o número apontado na publicação (98), a verdade é que, com este recorde nacional em apenas seis anos de mandato, Rebelo de Sousa está ainda longe de ser o presidente mais viajado em toda a Europa e o segundo mais viajado do mundo. Para isso, basta contabilizar as viagens de dois presidentes: Emmanuel Macron, na França, e George W. Bush, nos EUA.

Macron, que assumiu pela primeira vez o cargo de Presidente da França em 2017, já contava, de acordo com um estudo do Institute of New Europe (INE), até 2021, um total de 124 viagens ao estrangeiro, com destino a mais de 50 países. O presidente francês visitou com maior regularidade a Bélgica (23 vezes), a Alemanha (16 vezes) e a Itália (cinco vezes). Se o ritmo se manteve, Macron deverá ter já ultrapassado as 150 viagens ao estrangeiro em apenas cinco anos de mandato (menos um do que Rebelo de Sousa).

Quanto aos EUA, embora com oito anos de mandato, presidentes como George W. Bush (140 viagens), Bill Clinton (133) e Barack Obama (120) permanecem num patamar bastante acima do de Rebelo de Sousa. Por sua vez, Donald Trump é apenas o nono presidente norte-americano mais viajado de sempre, com 34 saídas para o estrangeiro.

De resto, é igualmente falso que Rebelo de Sousa tenha saído do país enquanto Portugal estava em risco ou mesmo a ser assolado por incêndios florestais. Em julho, o Presidente da República cancelou pelo menos uma deslocação a Nova Iorque. Em nota publicada na página da Presidência da República informa-se que “o Presidente da República decidiu ficar em Portugal no início da semana, devido ao muito elevado risco de incêndios florestaisdeixando de lado a sua intervenção numa “reunião especial do Conselho Económico e Social da ONU”.

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Avaliação do Polígrafo:

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