- O que está em causa?A revelação do custo do altar-palco (€4,24 milhões) que será construído para receber a Jornada Mundial da Juventude gerou reações por parte da sociedade civil e de altas figuras do Estado. O Presidente da República começou por aceitar as justificações apresentadas pela autarquia de Lisboa, relacionadas com a reutilização da estrutura. Dois dias depois, no entanto, apelou ao respeito pela “visão simples, pobre” e “não triunfalista” do chefe da Igreja Católica.

Na segunda-feira, dia 23 de janeiro, foi avançada a notícia de que a empresa da Câmara Municipal de Lisboa (CML) responsável pela requalificação do Parque Tejo tinha adjudicado por ajuste direto a construção do altar-palco da Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2023), que se realiza na capital em agosto. O contrato no valor de 4,24 milhões de euros, disponível no portal Base, foi atribuído à empresa Mota-Engil, somando-se a esse valor "1,06 milhões de euros para as fundações indiretas da cobertura".
Desde que a informação foi revelada, Carlos Moedas tem justificado o custo da obra central do evento com a possibilidade de o palco ser reutilizado no futuro. Em declarações aos jornalistas, na terça-feira, 24 de janeiro, afirmava ainda que já sabia que a infraestrutura seria "muito cara e um grande investimento para a cidade" e que "não tinha muito tempo", já que o evento se realiza dentro de seis meses. Ressalvou ainda que não poderíamos "enquanto cidade e enquanto país não acolher o Papa". As declarações do presidente da CML surgiam depois de Marcelo ter pedido explicações à organização sobre o valor da estrutura que, garantia o chefe de Estado, só tinha conhecido nesse dia.
Na noite de terça-feira, o Presidente da República reagia aos esclarecimentos de Moedas e mostrava-se até satisfeito com as justificações do autarca. "Ele disse que Lisboa tenciona utilizar aquilo não apenas para o parque, mas utilizar a estrutura toda para outras ideias que podem ser muito interessantes", disse. E acrescentou: "Isso explica verdadeiramente não apenas a feição e o objetivo imediato, que é importante, mas o ser duradouro o investimento que ali é feito."
Esta quinta-feira, 26 de janeiro, Marcelo falou novamente sobre o altar-palco para sugerir que a obra seja feita à imagem do atual chefe da Igreja Católica. "Seria muito estranho um Papa que quer dar imagem de pobreza, austeridade e contra o espavento viesse a não ter um acolhimento correspondente ao que é o seu pensamento", afirmou aos jornalistas, garantindo que espera que o projeto "corresponda ao pensamento do Papa que se caracteriza por uma visão simples, pobre, não triunfalista".
"A solução vai tentar tirar proveito daquilo que é interesse nacional, respeitar o período em que nos encontramos e a própria maneira de ser do Papa. No fundo, o apuramento global do custo ainda não foi apresentado aos portugueses", acrescentou o Presidente da República.
Pouco depois de Marcelo pender para a adoção de simplicidade no evento, o Patriarcado, em declarações à SIC, afastou-se de responsabilidades sobre a escolha do altar-palco e revelou que toda a informação foi partilhada com as várias entidades envolvidas, incluindo com Marcelo Rebelo de Sousa - uma informação que viria a ser desmentida pelo próprio Marcelo, mas também por Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ 2023, que subscreveu, em conferência de imprensa, as afirmações de Marcelo a respeito deste tema.
Em suma, seguindo a linha cronológica de declarações dos últimos dias, é verdade que Marcelo começou por pedir explicações sobre o valor da estrutura que será construída para a JMJ e logo depois mostrou-se satisfeito com as justificações apresentadas por Carlos Moedas, que defendeu a reutilização do palco no futuro. Apesar disso, dois dias depois, lembrou o carácter minimalista e humilde do Papa Francisco e revelou a esperança na redução de custos do projeto já apresentado.
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