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Marca “Balenciaga” tem significado satânico em latim, como se diz no Facebook?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Polémicas envolvendo a marca não param de chegar e, desta vez, há quem tenha recorrido ao "tradutor" da Google para perceber de onde vem a origem no nome "Balenciaga". Segundo um "post" de 5 de dezembro, a tradução do nome do latim é a prova de que a marca é um culto satânico.

O processo é simples: “Coloque no ‘Google Tradutor’ as palavras ‘baal enci aga’ com a língua ‘Latim’ e veja o que dá a tradução para português.” Segundo a imagem que acompanha o “post”, o resultado é: “Baal é o rei.”

“A religião do Mistério, também chamada de religião da babilónia, vem desde os primórdios da humanidade e inclui o sacrifício de crianças, com rituais sexuais e satânicos. Os que mandam na Balenciaga e noutras empresas são apenas os seguidores de algo que existe desde o princípio, não apenas pedofilia”, continua a publicação.

“Nas Escrituras, já o profeta Jeremias falava contra os que sacrificavam crianças a Baal, coisa que Deus condenava. Hoje há muita coisa a acontecer nos bastidores da arte e da política, que o comum dos cidadãos pensa ser apenas crime. Há muito mais por trás! A Balenciaga foi algo detetado, mas é apenas a ponta do icebergue (…) Só entenderá o que acontece se perceber que atrás deste mundo natural, há um mundo espiritual que o comanda”, lê-se.

A publicação surgiu na sequências das críticas à marca de luxo Balenciaga, fundada em Espanha, que recentemente publicitou campanhas que aludiam à exploração infantil. Agora, “posts” partilhados centenas de vezes desde 5 de dezembro afirmam que a tradução do latim do nome da marca é a prova de que a mesma representa um culto satânico: as alegações têm por base uma tradução através da ferramenta da “Google” segundo a qual “Balenciaga” significa “Baal é rei”.

Nas redes sociais está a promover-se uma suposta venda de "paletes de encomendas não reclamadas" pelos CTT - Correios de Portugal, apenas 1,95 euros por cada palete. Incluem telemóveis, aparelhos de cozinha, aspiradores, etc. Basta "preencher o formulário". Verdade ou falsidade?

Segundo a demonologia judaico-cristã, Baal é um dos sete príncipes do inferno. No entanto, é incorreto afirmar que o nome da marca se escreve “Baalenciaga” (como sugere o “post” em análise) e que, quando separada foneticamente (“Baal-enci-aga“) traduz para “Baal é rei”.

À Agence France-Presse (AFP), o professor de latim medieval da Universidade de Harvard, Jan Ziolkowski, afirmou que o nome da marca “não pode ser transformado em latim”. Ziolkowski explicou ainda que a tradução correta em latim de “Baal é rei” é “Baal est rex”. Já os termos “enci” e “aga” nem sequer surgem nos dicionários.

Além disso, basta recorrer à ferramenta da Google para perceber que, ao traduzir “baal é rei”, esta faz uma correção, destacando que em latim seria “baal regem” ou “rex Baal”, sugerindo ainda uma tradução alternativa do Sepedi, uma das línguas oficiais da África do Sul.

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Avaliação do Polígrafo:

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