“A estupidez do ser humano! Aqui está a bateria da Tesla”, começa por se destacar numa publicação feita no Facebook a 1 de fevereiro que já conta com mais de cinco mil partilhas.
O post refere que para produzir uma bateria para um carro Tesla é necessário escavar “12 toneladas de rocha para obter lítio, cinco toneladas de minerais de cobalto, três toneladas de mineral para níquel, 12 toneladas do mineral para o cobre” e mover “250 toneladas de terra para obter: 12 kg de lítio, 13,6 libras de níquel, 22 kg de manganês, 6,8 kg de cobalto, 100 kg de rame e 200 kg de alumínio, aço e plástico”.

A máquina utilizada para mover toda esta terra é uma Caterpillar 994A que, segundo o post, “consome 1.000 litros de diesel em 12 horas“, por isso, o autor rejeita que este seja um carro “zero emissões” e que este é “o maior golpe da história”.
Mas estes dados e respectivas conclusões têm fundamento?
De acordo com um estudo da Transport & Environment (federação de organizações não governamentais focadas nos setores dos transportes e do ambiente) divulgado em 2021, apenas cerca de 30 quilogramas de metais são destruídos após a reciclagem da bateria de um automóvel elétrico.
Em comparação, um automóvel médio movido a gasolina queima entre 300 a 400 vezes esse peso em gasolina ao longo da sua vida útil.
Quanto à produção, com o avançar da tecnologia das baterias será necessária cada vez menos matéria-prima para as produzir. “De 2020 a 2030, a quantidade média de lítio necessária para um kWh de uma bateria de um elétrico cai para metade (de 0,10 kg/kWh para 0,05 kg/kWh), a quantidade de cobalto cai mais de três quartos”, indica o estudo.
Portanto, além de se reduzir a necessidade de matéria-prima com a evolução da tecnologia, também a reciclagem destas baterias ajuda a que tenham uma menor pegada ecológica.
O Polígrafo contactou a marca responsável pela CAT994A que explicou que este tipo de equipamento – que “não é usual até ao momento em Portugal” devido à sua dimensão – “tem uma carga útil de 43,7 toneladas, uma produção de 3437,4 toneladas, um consumo de combustível de aproximadamente 243 litros/hora e uma eficiência de 14,1 toneladas/litro”.
Quanto às toneladas, é capaz de mover 250 toneladas de terra em seis ciclos. Relativamente ao combustível, 243 litros multiplicados pelas 12 horas referidas na alegação dá um total de 2.916 litros consumidos. Assim, uma CAT994A até consome mais em 12 horas, quase o triplo, do que indica a publicação.
O Polígrafo contactou a Deco Proteste, associação de defesa do consumidor, que indicou que “no geral, um veículo elétrico tem uma pegada ambiental inferior aos com motor a combustão”. Assume-se que implique um maior peso na construção, mas, em contrapartida, “muito menor [pegada ambiental] no uso, o que faz com que seja menos poluente”.
“Os estudos que existem indicam que no global – produção, utilização e fim de vida -, os veículos elétricos tendem a ser mais ecológicos. Isto depende muito do período de uso em particular do número de quilómetros realizados durante a vida útil do veículo. Mas, para um cenário realista de utilização do veículo, os elétricos conseguem ser mais ecológicos”, acrescenta a mesma fonte.
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Avaliação do Polígrafo: