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Mamadou Ba disse que “nós temos é que matar o homem branco”?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
No título de um artigo que está a circular no Facebook destaca-se que "Mamadou Ba incendeia as redes sociais: 'Nós temos é que matar o homem branco'". Além deste artigo, o Polígrafo também recebeu dezenas de pedidos de leitores no sentido de verificar se o dirigente da associação SOS Racismo proferiu mesmo tal afirmação, remetendo o vídeo em que está registada. A citação é verdadeira e está devidamente contextualizada?

“Mamadou Ba participou num debate online onde se abordava o discurso de ódio no mundo, e acabou por proferir declarações que estão a gerar muita polémica nas redes sociais. No vídeo, que está disponível no YouTube a toda a gente, pode ouvir-se Mamadou Ba a dizer: ‘Temos de matar o homem branco. O homem branco que se mostrou até aqui tem de ser morto. Para evitar a morte social do sujeito político negro, é preciso matar o homem branco assassino, colonial e racista'”, descreve-se no texto do artigo.

A citação é verdadeira e está devidamente contextualizada?

De facto, Mamadou Ba, dirigente da associação SOS Racismo, foi um dos participantes numa conferência digital sobre o “racismo e avanço do discurso de ódio no nundo” que foi transmitida na plataforma YouTube, mais especificamente no canal “Pensar Africanamente”, no dia 21 de novembro.

Numa das suas intervenções, já na segunda metade da conferência, Mamadou Ba defendeu a necessidade de criação de uma nova narrativa para combater o discurso de ódio: “O processo de animalização, de desumanização, apresenta-se quotidianamente nas nossas vidas a partir da desvalorização da nossa própria condição de poder reclamar voz e condição de sujeito político. (…) Nós temos tanto para oferecer ao mundo. O que está mais em disputa é a nossa capacidade em termos autonomia da nossa voz. (…) O que mais importa para combater o discurso de ódio é propor uma nova narrativa, um novo discurso, uma nova forma de o aliado inventar a humanidade. É reclamar a ideia de que não há humanidade a partir desta ideia enganosa de que o alfa e o ómega do mundo partem desta orocentralidade do pensamento”.

Posto isto, Mamadou Ba avançou para a declaração mais controversa: “Nós temos é que matar o homem branco como sugeria o [Frantz] Fanon. O homem branco que nos trouxe até aqui tem de ser morto. Para evitarmos – como dizia Orlando Patterson – a morte social do sujeito político negro é preciso matar o homem branco, assassino, colonial e racista“.

“Nós temos é que matar o homem branco como sugeria o [Frantz] Fanon. O homem branco que nos trouxe até aqui tem de ser morto. Para evitarmos – como dizia Orlando Patterson – a morte social do sujeito político negro é preciso matar o homem branco, assassino, colonial e racista”, afirmou Mamadou Ba, na referida conferência.

Contactado pelo Polígrafo, Mamadou Ba sublinha que as suas palavras estão a ser interpretadas de uma forma “muito errada” e “desonesta” nas redes sociais. “É uma citação que está na obra do Frantz Fanon. Essa frase foi, aliás, em resposta à intervenção anterior de Thula Pires que falou dele”, ressalva.

“O que quis dizer foi que, para combater o racismo, é necessário combater a ideologia da supremacia branca, o subconsciente coletivo das sociedades marcadas pelo processo colonial e a ideia de superioridade da raça. A ideia de que o homem branco é superior a outras raças e outras culturas“, esclarece.

Em suma, a frase isolada carece do respetivo contexto e por isso é enganadora, apresentada desta forma, ainda para mais quando se omite a parte em que Mamadou Ba disse “como sugeria o Fanon“. Tal como o visado explicou ao Polígrafo, aliás, “é uma citação que está na obra do Frantz Fanon”, em resposta a uma intervenção anterior.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falta de contexto: conteúdos que podem ser enganadores sem contexto adicional.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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