"As quatro coisas sobre a vitamina C que são chocantes", destaca-se numa publicação, acompanhada de um vídeo explicativo, feita no Facebook a 4 de setembro.

Estas quatro coisas resumem-se ao seguinte: "Não existe muito benefício de doses altas de ácido ascórbico; A grande maioria da vitamina C vendida é falsa e feita através de açúcar; A vitamina C não é bem absorvida em conjunto com o consumo de açúcares; Doses altas de ácido ascórbico mantidas podem causar oxidação, diarreia e enfartamento".

Focando a atenção na segunda alegação, a pessoa que protagoniza o vídeo indica o seguinte: "A grande maioria da vitamina C vendida é vendida sobre esse nome - ácido ascórbico - que é só uma parte dessa vitamina C e por isso é que eu digo que é falsa. Porque associamos que estamos a comprar uma vitamina C, mas estamos a comprar só a parte antioxidante daquela vitamina C e quando um complexo não vem como sendo da natureza não é tão benéfico".

"Porque é que eu digo isto: sabem que grande parte da vitamina C, de ácido ascórbico, é sintético. Ou seja, aquele ácido ascórbico não é extraído da vitamina C, é feito através de duas coisas que é ácido sulfúrico e uma variante de açúcar que vem do milho normalmente. Portanto, 80% dos laboratórios que produzem vitamina C produzem através destas misturas", detalha o indivíduo.

Estas alegações têm fundamento?

Começando por entender o que é a vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico: é uma vitamina hidrossolúvel, ou seja, dissolve-se na água, que pode ser encontrada naturalmente em alguns alimentos. Esta pode ser adicionada a alguns produtos alimentares e obtida através de suplementos, tal como refere uma publicação do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da Direção-Geral da Saúde.

Alimentos como "frutas e vegetais, tais como frutas cítricas, sumo de tomate, batata, pimento verde e vermelho, kiwi, brócolos e morango" contêm esta vitamina.

Quanto ao que é exposto na publicação, o Polígrafo contactou o nutricionista e dirigente da Associação Portuguesa de Nutrição Nuno Borges que indicou que se trata "de um vídeo de promoção comercial de um suplemento alegadamente contendo vitamina C".

"Em primeiro lugar, a vitamina C é o ácido ascórbico, sendo que alguns dos seus sais (ascorbato de sódio ou cálcio, por exemplo) também possuem atividade. As outras substâncias referidas não têm actividade vitamínica C. Bioflavonóides, cobre ou outras substâncias referidas não são vitamina C, como é alegado", esclarece o nutricionista.

Borges explica ainda que "esta vitamina é sintetizada pelos organismos que a produzem a partir de um glícido (vulgo 'açúcar'), assim como na síntese química industrial".

"Todos os compostos orgânicos necessitam de ser sintetizados. Neste caso, isso não os torna 'falsos' ou menos efetivos. No caso da vitamina C, existem organismos, inclusivamente animais, que a sintetizam e que, por isso, não necessitam de obtê-la da dieta. No caso da vitamina C disponível sob a forma de uma qualquer formulação farmacêutica (comprimidos, soluções, etc.) esta também é obtida por um processo de síntese, neste caso a nível laboratorial", adianta o nutricionista.

"O produto final é o mesmo, independentemente de a via de síntese ser natural (nos organismos vivos) ou artificial (em laboratório ou fábrica). Em ambos os casos, esta molécula é sintetizada a partir de um glícido, vulgo 'açúcar'", conclui.

De resto, o especialista carimba como verdadeira a alegação de "que doses altas (acima das necessidades diárias para o Homem) não têm demonstrado qualquer benefício no tratamento de várias doenças ou na sua prevenção”.

_______________________________

Avaliação do Polígrafo:

Assine a Pinóquio

Fique a par dos nossos fact checks mais lidos com a newsletter semanal do Polígrafo.
Subscrever

Receba os nossos alertas

Subscreva as notificações do Polígrafo e receba os nossos fact checks no momento!

Em nome da verdade

Siga o Polígrafo nas redes sociais. Pesquise #jornalpoligrafo para encontrar as nossas publicações.