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Luís Filipe Vieira: “Deixámos o Benfica com 100 milhões de dívida, aproximadamente”

Polígrafo Futebol
O que está em causa?
A situação financeira do Benfica foi um dos temas da entrevista de Luís Filipe Vieira à SIC/SIC Notícias. O candidato falou da sua herança como presidente, disse que deixou uma casa organizada, com 100 milhões de dívida. Recorde-se que a dívida apresentada no último Relatório e Contas da Benfica SAD (2024/25) é 196,9 milhões de euros.

 

Ao Rui Costa, tenho que chamar ignorante, para ser mais claro, é ignorante mesmo. A casa que nós deixámos é uma casa com 100 milhões de dívida aproximadamente

Na entrevista de ontem à SIC/SIC Notícias, esta foi a frase de Luís Filipe Vieira no momento em que, após dizer que deixou o clube organizado, é confrontado com uma declaração de Rui Costa de que encontrou o Benfica num “estado lastimoso”.

 

Qual o valor da dívida no momento da saída de Luís Filipe Vieira?

Eleito pela 6.ª vez consecutiva em outubro de 2020, Luís Filipe Vieira saiu da presidência do Benfica ainda antes de completar o 1.º ano desse mandato. Após a sua detenção e constituição de arguido no âmbito da “Operação Cartão Vermelho” (7 de julho), então presidente do Benfica optou, num primeiro momento, por suspender as suas funções (9 de julho) e, alguns dias depois, por renunciar ao cargo (15 de julho).

Esta cronologia dos factos é importante para avaliar a afirmação do agora ex-presidente e candidato, já que os relatórios e contas dos clubes/SAD acompanham as épocas desportivas, ou seja, reportam-se aos 12 meses que se iniciam a 1 de julho do ano anterior até 30 de junho desse ano.

Na panóplia de dados apresentados nos documentos financeiros dos clubes, a rubrica de referência para medir a dívida – e aquela a que Luís Filipe Vieira aludia – é a “Dívida Líquida”, definida pela própria Benfica SAD como a que “corresponde ao valor da dívida bancária e dos empréstimos obrigacionistas que constam do passivo, deduzido do saldo da rubrica de caixa e equivalentes de caixa que consta do ativo”.

Ora o valor da dívida líquida no último exercício financeiro integralmente cumprido na presidência de Vieira (2020/21) era 100,9 milhões de euros.

No exercício seguinte (2021/22), já sob a liderança de Rui Costa praticamente nos 12 meses do ciclo, o valor da dívida líquida fixou-se nos 147,1 milhões de euros, ou seja, houve um agravamento de 45,8 por cento.

Porém, houve um fator com impacto nesse aumento que decorreu de uma decisão tomada no exercício 2020/21 e implementada logo nos primeiros dias do exercício 2021/22, ambos sob a presidência de Luís Filipe Vieira (e do qual Rui Costa era o número 2): a emissão de um empréstimo obrigacionista no valor de 35 milhões de euros.

Essa “Oferta Pública de Subscrição” foi lançada ainda a 1 de julho de 2021 e decorreu até 13 de julho. Luís Filipe Vieira deixou a presidência 15 de julho, mas esta operação teve já impacto no Relatório e Contas de 2021/22, já associado à liderança de Rui Costa.

No último Relatório e Contas da Benfica SAD (2024/25), a dívida líquida apresentada era 196,9 milhões de euros e representava 56,6% dos rendimentos totais, face aos 100,9 milhões de dívida e 49,46% dos rendimentos totais do último ano de mandato de Luís Filipe Vieira.

 

 

Relatório e Contas 2020/21

 

Relatório e Contas 2021/22 – rubrica “Empréstimos”

 

Relatório e Contas 2024/25

 

Desta forma, é verdadeiro que a dívida líquida do Benfica rondava os 100 milhões de euros quando Luís Filipe Vieira saiu do Benfica, conforme o próprio afirmou, mas o empréstimo obrigacionista lançado nos últimos dias do seu consolado aumentou essa dívida, embora só refletido no exercício 2021/22.

 

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Avaliação do Polígrafo Futebol:

 

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