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Ligar um gerador às rodas de um carro elétrico produz energia suficiente para carregar a bateria?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A imagem de um veículo elétrico com um gerador ligado a uma roda traseira tem sido divulgada nas redes sociais. Na legenda da publicação afirma-se que “o dono fez o que nenhum fabricante alguma vez fez". Mas será possível carregar completamente a bateria de um carro elétrico em andamento a partir de um gerador?

“Sempre me perguntei porque é que esses carros não foram projetados para usar a energia gerada pela movimentação das rodas para recarregar a bateria do carro. Este homem fez isso em casa. O que se pode ver na imagem é um gerador que produz uma corrente que carrega a bateria. Não é preciso parar para carregar a bateria nos postos de carregamento ou carregá-las à noite em casa. Carrega a bateria enquanto o carro está a funcionar. É simples assim”, escreve o autor da publicação em causa, publicada no dia 4 de novembro, partilhada 37 mil vezes.

É possível carregar completamente a bateria de um carro elétrico utilizando um gerador ligado às rodas?

Não. Ligar um gerador às rodas de um carro elétrico não é suficiente para carregar a bateria de um carro. A ideia divulgada na publicação não funciona porque vai contra as leis da física e pode afetar a autonomia do veículo.

Para que fosse possível recarregar a bateria de um carro elétrico em andamento, o gerador deveria produzir mais energia do que aquela que recebe. Com base no Princípio da Conservação da Energia da física, estabelece-se que é impossível obter energia a partir do nada, porque uma máquina precisa sempre de uma fonte de energia para funcionar.

O princípio da conservação da energia define, também, que a energia pode mudar de forma. No caso de um automóvel, a energia muda de forma porque a energia da bateria transforma-se da sua forma química (armazenada na bateria) para energia mecânica (através da movimentação das rodas).

O Princípio da Conservação da Energia estabelece que a bateria só poderia ser carregada se a energia proveniente do gerador fosse transferida na totalidade para a bateria do carro. No entanto, a energia produzida pelas rodas é transferida para o solo de forma a acelerar o carro. De igual forma, a energia utilizada para impulsionar o carro não vai para o gerador e, por isso, não pode ser utilizada para recarregar a bateria.

"Quando falamos de mobilidade sustentável e dizemos que os carros elétricos emitem zero gramas de CO₂, não podemos esquecer este facto: a produção das baterias liberta tanto CO₂ como um carro a gasolina durante 8 anos de utilização", afirma-se num artigo propagado nas redes sociais. Confirma-se?

Também com base na Segunda Lei da Termodinâmica, define-se que a energia não se transfere de forma igual entre todos os componentes do carro. A energia é dissipada através do calor e da fricção no circuito da bateria para a roda, da roda para o gerador e, por último, do gerador de volta para a bateria.

Assim, e como foi explicado no Climate Feedback, uma plataforma mundial de cientistas que separam os factos da ficção e no site de fact-checking Full Fact, a solução proposta pela imagem vai contra as leis da física porque a energia é sempre conservada e não é possível que seja criada a partir do nada. Neste caso, o gerador utiliza a energia da roda e, consequentemente, torna o carro mais lento e menos eficiente. Além disso, não conseguiria produzir mais energia do que aquela que recebe.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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