“O parque da Bela Vista, em Marvila, é o espelho de uma política ambiental da CML descuidada! Meses a ser preparado o evento do Rock in Rio fez desaparecer toda a relva e aparecer um piso amarelo-palha!! O único verde falso que se consegue ver é à base de tapetes de relva sintética! Agora vão ser meses a desmontar tudo! Para quando o parque verde e transitável para todos nós, moradores?”, afirma-se numa publicação partilhada no Facebook, no último dia do festival em questão.

Confirma-se?

Contactada pelo Polígrafo, fonte oficial da Câmara Municipal de Lisboa (CML) começa por dizer que “o solo em causa não é um ‘relvado’, mas sim um prado sequeiro” e que a autarquia está envolvida num projeto, chamado “Life lungs”, que tem como objetivo a “demonstração de boas práticas no âmbito das adaptações às alterações climáticas”.

No seu microsite, a CML explica que o Parque da Bela Vista foi a área piloto nesta iniciativa, sendo revestido com “uma mistura de semente de prado” que apresenta vantagens perante os impactos das alterações climáticas, contribuindo "para uma composição do solo mais estável, com resultados positivos na retenção de água, atuando como uma estrutura de esponja. Simultaneamente, tem elevadas taxas de captação de dióxido de carbono e azoto no solo".

A CML é, de facto, responsável pela manutenção do espaço, mesmo durante o festival. “É  mantido em permanência por uma equipa residente de três a cinco jardineiros, que integram a Equipa de Gestão de Espaços Verdes Oriental da Câmara Municipal de Lisboa. Durante o período de montagens do festival, esta equipa é reforçada para 13 jardineiros”, clarifica a mesma fonte.

Quando questionada sobre o estado do solo antes e depois do Rock in Rio, a Câmara de Lisboa justifica o facto de o prado parecer mais degradado com “as montagens e realização do festival, por óbvia impossibilidade em se efetuar, durante aquele período de tempo, uma rega com a dotação de água suficiente para manter o prado mais verde”. Além disso, ainda aponta que o “ano excepcionalmente seco, conjugado com a impossibilidade em realizar uma rega efetiva durante o período em causa” também contribuíram para as consequências visíveis. “O prado estava em boas condições de manutenção e desenvolvimento, como atestam as fotografias recolhidas pouco depois do início das montagens”, reforça a CML.

Fonte oficial do Rock in Rio garante também ao Polígrafo que “este ano, pela primeira vez, o prado secou muito antes do evento. A várias semanas de abrirmos portas já eram visíveis os efeitos da seca e que fez com que o piso fosse afetado”.

O Rock in Rio assegura que este não é o primeiro ano que se depara com um desafio como este: “Trabalhamos com este mesmo piso desde 2004 e em todas as edições são feitas sementeiras e regas, antes e depois do evento, para garantir que o parque volta a ficar verde quando os meses mais quentes passarem”. Quanto ao tapete de relva sintética, referido na publicação em análise, fonte oficial do festival explica que colocá-lo na área em frente ao Palco Mundo, “é uma prática usada em todas as edições para proporcionar maior conforto ao público, visto que esta é a área com menos prado e que, nos dias de evento, concentra o maior número de pessoas”.

O que poderá ser feito futuramente para evitar a degradação do piso?

A CML admite que “numa futura edição deste ou de outros eventos similares deverão ser reavaliadas as necessidades de água para os diversos usos, de forma a garantir um melhor equilíbrio entre as necessidades do evento e as necessidades hídricas da vegetação”. A autarquia acrescenta que será “necessário otimizar a programação das atividades de preparação, organização e realização dos eventos, por forma a garantir um período de rega de pelo menos duas horas, sem que as várias atividades conflituam entre si. A experiência desta edição deste evento recomenda, pois, adaptações de trabalho e de organização em eventos futuros”.

De momento, a CML refere que, apesar de não ser a época do ano adequada, “o solo será revolvido onde necessário e o prado será ressemeado, fertilizado e regado para assim recuperar e continuar a garantir uma utilização do Parque confortável pelos seus utentes”.

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EMIFUND

Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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