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Lenha e “pellets” são as “soluções energéticas” mais baratas para “aquecer as casas”?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Em publicação no Facebook comparam-se os preços - medidos por quilowatt-hora (kWh) - de diferentes "soluções energéticas" para "aquecer as nossas casas". Os mais baratos são a lenha (0,035 euros por kWh) e os "pellets" (0,133), a grande distância do gás natural (0,198), gasóleo (0,209) e eletricidade (0,370). Verdadeiro ou falso?

“Atualmente, há uma pergunta que todos os portugueses querem ver respondida: Qual é, afinal, a solução de aquecimento mais económica? Estudos recentes indicam que apesar de o preço dos pellets quase ter triplicado, esta opção, bem como a lenha, continuam a ser as soluções mais económicas para aquecer as nossas casas“, destaca-se num post de 28 de outubro no Facebook, remetido ao Polígrafo com pedido de verificação de factos.

A alegação é demonstrada através de um gráfico com dados de um “Estudo comparativo de soluções energéticas”. Apresenta uma comparação dos preços – medidos por quilowatt-hora (kWh), embora se indique erradamente no gráfico como kW – de diferentes “soluções energéticas” para “aquecer as nossas casas”. Os mais baratos são a lenha (0,035 euros por kWh) e os “pellets” (0,133), a grande distância do gás natural (0,198), gasóleo (0,209) e eletricidade (0,370).

Na caixa de comentários, o autor da publicação refere que a fonte do estudo é a Deco Proteste. Contudo, não encontramos registo do mesmo na página da organização de defesa do consumidor.

Em resposta ao Polígrafo, a Deco Proteste garante: “O quadro comparativo não é nosso.” Mais, de acordo com os técnicos da organização, “o único valor que bate mais ou menos certo é o dos pellets – 0,13 euros por kWh se o saco de 15 quilogramas custar cerca de 10 euros (e é por kWh e não por kW)”.

De qualquer modo, num estudo recente da Deco Proteste (neste caso um estudo real e comprovadamente da referida organização), publicado no dia 10 de outubro, informa-se que o preço médio dos pellets, só nos últimos seis meses, aumentou 150% em Portugal. “Se no início do ano era possível comprar um saco de 15 quilos por cerca de 4 euros, atualmente, as superfícies de retalho que já têm stocks de pellets para vender estão a praticar preços entre os 8,99 euros e os 10,99 euros“, salienta-se.

Quanto aos preços da lenha, de facto, estes são os mais acessíveis para as carteiras dos portugueses, apesar de também terem registado aumentos significativos nos últimos meses.

De acordo com uma publicação viral no Facebook, "40 euros de eletricidade" dá para "fazer apenas 300 quilómetros" num automóvel elétrico, ao passo que um automóvel a gasóleo, tendo percorrido essa mesma distância em estrada, "gastou apenas 27 euros". As contas estão bem feitas?

No que respeita à eletricidade, na página “Lojaluz” disponibiliza-se uma comparação dos preços tendo por base as tarifas de cinco fornecedores: EDP, Endesa, Galp, Iberdrola e Gold Energy. O preço mais elevado é o da EDP com 0,23770 euros por kWh, enquanto o mais barato é o da Endesa com 0,14500 por kWh. No entanto, estes preços não contemplam o mecanismo de ajuste do MIBEL que algumas empresas começaram a cobrar e que fazem “engordar” a fatura final.

A referida página apresenta a mesma comparação relativamente ao gás natural. Neste âmbito destaca-se o preço de 0,20960 por kWh na EDP, fornecedor mais dispendioso, e 0,12230 euros por kWh na Endesa, o mais barato.

Por fim, o gasóleo. Um litro de gasóleo equivale a cerca de 10 kWh, portanto, segundo o último boletim da ERSE sobre os combustíveis (com dados referentes a agosto de 2022), o preço médio de gasóleo simples era de 1,855 euros por litro que, dividindo por 10, resulta num preço de 0,1855 euros por kWh.

Tendo em conta que, entre agosto e outubro, os preços do gasóleo aumentaram, o custo atual é superior a 0,207 euros por kWh.

Em conclusão, o estudo não é da Deco Proteste e no gráfico confunde-se kW com kWh. Os valores indicados também não estão totalmente corretos, mas o facto é que, mesmo assim, confirma-se que a lenha e os pellets são mais baratos do que as restantes opções em causa: eletricidade, gasóleo e gás natural.

Outro elemento a ter em consideração é o impacto ambiental destes recursos energéticos, desde logo ao nível da desflorestação, inclusive em áreas protegidas.

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Avaliação do Polígrafo:

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