Dez anos, seis meses e 12 dias. É este o intervalo que separa o dia (21 de novembro de 2014) em que José Sócrates foi detido no aeroporto de Lisboa, quando chegava de Paris, na sequência de um inquérito do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) que investigava possíveis crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, do dia em que se inicia o julgamento do ex-Primeiro-Ministro e de figuras como Ricardo Salgado e Carlos Santos Silva. A justiça pode demorar ainda mais anos a fechar este caso (prevê-se que o julgamento seja longo), mas será que desde o início do inquérito até à entrada em tribunal este se qualifica como o processo mais demorado da história da justiça portuguesa?
O Polígrafo comparou a Operação Marquês com outros grandes processos que marcaram o país. E sim, houve quem esperasse ainda mais tempo por um julgamento do que José Sócrates.
Casa Pia
Com inquérito aberto no final de novembro de 2002, depois de uma reportagem do “Expresso” expor casos de abusos sexuais na Casa Pia, o julgamento do caso começou logo em novembro de 2004, no tribunal da Boa Hora, em Lisboa. Tempo de espera: dois anos.
Processo Face Oculta (Armando Vara)
Com início em outubro 2009, (ano em que começa a investigação e em que Armando Vara é constituído arguido), o processo Face Oculta teve o seu primeiro dia de julgamento em novembro de 2011, ou seja, dois anos e um mês depois.
Caso BPN (Banco Português de Negócios)
O inquérito ao BPN começa em novembro de 2008 quando a Polícia Judiciária, a Inspecção Tributária e a Guarda Fiscal realizaram buscas às residências de José de Oliveira e Costa. A 20 desse mês, o banqueiro é detido e constituído arguido, suspeito de burla, branqueamento de capitais e fraude fiscal. O julgamento, que acabou por levar à condenação de 12 arguidos já em 2017, arrancou a 15 de dezembro de 2010. Mais uma vez, dois anos e um mês depois das primeiras movimentações.
Caso EDP
A abertura de inquérito deste processo deu-se no início de 2012, mas o julgamento de figuras como Manuel Pinho (ex-ministro das Finanças) e os antigos administradores da EDP António Mexia e João Manso só começou a 3 de outubro de 2023, ou seja, quase 12 anos depois. Em causa crimes de corrupção relacionados com os Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC) por parte da EDP.
Processo BES/GES (Ricardo Salgado)
A investigação criminal que se seguiu ao colapso do Grupo Espírito Santo (GES) e do Banco Espírito Santo (BES) começou em agosto de 2014, com várias figuras de topo envolvidas em suspeitas de crimes de burla qualificada, abuso de confiança, corrupção, falsificação e branqueamento de capitais. O julgamento deste caso começou a 15 de outubro de 2024, no Campus da Justiça de Lisboa, 10 anos e dois meses depois, e sentou no banco do tribunal 18 arguidos, 15 pessoas singulares e três empresas.
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Avaliação do Polígrafo: