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José Luís Carneiro na CNN: “Em 2010 tínhamos cerca de 20% de licenciados no Reino Unido e em 2020 já tínhamos 40%”

Política
O que está em causa?
Em comentário na CNN Portugal, ontem à noite, o ex-ministro da Administração Interna analisou a emigração portuguesa nos últimos anos, destacando alguns dados sobre as respetivas qualificações. Por exemplo, a percentagem de licenciados entre os emigrantes portugueses no Reino Unido terá duplicado entre 2010 e 2020. Confirma-se?
© Agência Lusa / José Sena Goulão

Num mês tradicionalmente marcado pelo regresso de muitos emigrantes a Portugal, José Luís Carneiro decidiu fazer, no seu espaço de comentário da CNN Portugal (ontem à noite, 12 de agosto), uma análise da emigração portuguesa nos últimos anos. Nesse âmbito realçou a saída dos mais qualificados, uma “tendência dos últimos 20 anos em toda a União Europeia”.

Sobre esta “fuga de cérebros” da Europa para outras regiões, o ex-ministro da Administração Interna (e ex-candidato à liderança do PS) indicou que “fundamentalmente migram para os EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia”. Ao passo que Portugal não é exceção nesta tendência que, considerou, “tenderá a acentuar-se”.

“Entre 2001 e 2022 passámos de 6% para 11% na percentagem daqueles que sendo licenciados emigraram”, afirmou, referindo-se especificamente aos emigrantes portugueses. E prosseguiu: “Nós em 2010 tínhamos cerca de 20% de licenciados no Reino Unido e em 2020 já tínhamos 40%. No caso da Suécia, que é um exemplo ainda mais paradigmático, em 2000 tínhamos cerca de 20% de emigrantes licenciados e em 2020 tínhamos já 60%, ou seja, triplicou o número de emigrantes licenciados.”

Os dados estão corretos?

De acordo com o “Atlas da emigração portuguesa“, publicado em 2023, “tem vindo a crescer a percentagem de emigrantes com curso superior, refletindo o aumento da qualificação da população portuguesa, em geral”.

Num primeiro momento, esse aumento da qualificação da emigração acompanhou o crescimento da qualificação da população portuguesa. Mas os números mostram que “a partir da segunda década do século, a emigração qualificada passou a crescer mais do que a qualificação dos portugueses, em geral”. O destino de eleição destes emigrantes mais qualificados é o Reino Unido, enquanto a França está no extremo oposto da tabela, com a emigração menos qualificada (em 2020, apenas 5% dos emigrantes em França tinham formação de Ensino Superior).

Sobre o aumento de 6% para 11% referido por Carneiro, este diz respeito aos portugueses emigrados com formação superior a residir nos países da OCDE. Está correto, é a percentagem mais recente conhecida. No entanto, a percentagem deverá ser superior a 11%, porque se refere ao espaço temporal de 2001 e 2011 (os dados de 2021, tal como referiu Carneiro, ainda não foram divulgados).

Voltando ao Reino Unido, segundo o “Atlas da emigração portuguesa” que se baseia em dados do Office for National Statistics do Reino Unido, em 2010 perto de 20% dos emigrantes era licenciado, ao passo que em 2020 essa percentagem ultrapassava ligeiramente os 40%, como demonstra o seguinte gráfico:

Já no caso da Suécia, também mencionado pelo ex-governante, “no início do século, em 2000, eram licenciados menos de 20% dos emigrantes portugueses” e, 20 anos depois, essa percentagem triplicou, chegando aos 60%.

Em resumo, Carneiro tem razão nos números apontados, sendo estes reveladores da chamada “fuga de cérebros” para o estrangeiro. Em 10 anos (2010-2020), a percentagem de emigrantes licenciados duplicou no Reino Unido e, em 20 anos (2000-2020), triplicou na Suécia.

Como já referido, estes aumentos só acompanharam o crescimento da qualificação da população portuguesa na primeira década do século. Posteriormente, os emigrantes qualificados cresceram em maior escala.

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Avaliação do Polígrafo:

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