“Em que momento foi explicado à população que todos temos a capacidade de fortalecer naturalmente o nosso sistema imunitário em poucos dias ou em poucas semanas? Isso certamente não impediria a propagação do vírus, mas fortaleceria as nossas defesas contra ele e, portanto, reduziria a proporção de casos graves, para curar muito mais rapidamente em casa“, alega-se na mensagem da publicação, na qual também se critica o incentivo a “proteções externas” para ajudar o organismo.

Segue-se uma lista de recomendações de práticas que supostamente ajudam a melhorar o sistema imunitário:
- “A eficiência do nosso sistema imunitário depende estreitamente da qualidade da nossa flora intestinal”;
- “Desinfetantes eliminam a primeira barreira imunitária natural do nosso corpo”;
- “Jejum fortalece o sistema imunitário em apenas três dias”;
- “Banho frio em poucos dias aumenta o nível de certos linfócitos T”;
- “O medo é imunossupressor”.
Estas recomendações têm validade científica?
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“Desinfetantes eliminam a primeira barreira imunitária natural do nosso corpo”
Questionado pelo Polígrafo, João Júlio Cerqueira, médico especialista de Medicina Geral e Familiar e criador do projeto “Scimed“, sublinha que “a lavagem das mãos é um dos métodos mais simples, baratos e eficazes de evitar a propagação de infeções, sejam elas víricas ou bacterianas”.
Estes benefícios, assegura o especialista, estão confirmados por “décadas de investigação” e as vantagens da desinfeção das mãos com álcool-gel “são imensamente superiores às possíveis desvantagens associadas à relativa agressividade desses produtos”.
Caso surjam feridas ou a pele fique ressequida devido ao uso destes produtos, o médico especialista recomenda a utilização de “cremes hidratantes” para prevenir ou debelar tais efeitos secundários.
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“A eficiência do nosso sistema imunitário depende estreitamente da qualidade da nossa flora intestinal”
Perante esta alegação, Cerqueira afirma que “apesar de ser perfeitamente adequada uma alimentação rica em frutas, legumes e vegetais para uma vida saudável, o conhecimento da relação entre a flora intestinal, o sistema imunitário e o impacto da alimentação nessa relação ainda está na sua ‘infância'”.
O médico especialista reconhece que “uma alimentação saudável e variada é importante para garantir um bom aporte nutricional ao organismo” e para que o sistema imunitário “tenha todos os micronutrientes necessários para funcionar o melhor possível”.
No entanto, adverte que “ainda está por estabelecer” se isso “influencia de forma decisiva a flora intestinal” e que impacto tem “nas defesas do organismo contra infeções víricas e bacterianas“.
Além disso, sublinha, esta alegação pretende estabelecer uma ligação entre a qualidade da flora intestinal e o combate a infeções respiratórias, “sem relação com o sistema gastrointestinal“.
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“Jejum fortalece o sistema imunitário em apenas três dias”
Na resposta ao Polígrafo, o especialista refuta por completo a alegação de que o jejum possa ser benéfico nesse sentido. “Não há qualquer prova de que o jejum intermitente consiga prevenir infeções através do reforço do sistema imunitário”, garante.
De acordo com Cerqueira, o jejum intermitente pode mesmo ter “o papel contrário, já que pode aumentar o risco de desnutrição, o que compromete o funcionamento do sistema imunitário“.
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“Banho frio em poucos dias aumenta o nível de certos linfócitos T”
Os banhos de água fria são realmente úteis? Cerqueira admite que podem aumentar o nível de certos linfócitos C mas que tal “não significa que haja um ‘reforço do sistema imunitário’ que proteja as pessoas contra infeções ou que seja, sequer, algo desejável”.
O especialista recorre ao exemplo da auto-hemoterapia – técnica que consiste em retirar sangue intravenoso de uma pessoa e voltar a inserir esse sangue no mesmo paciente – para defender que “determinadas observações como ‘aumento de células T’ não têm qualquer interesse até haver ensaios clínicos que demonstrem as vantagens anunciadas prematuramente”.
Segundo Cerqueira, a prática da auto-hemoterapia “também aumenta o nível de macrófagos e outras células do sistema imunitário sem qualquer demonstração de que essas pessoas [que recorrem a tal prática] sejam mais saudáveis, tenham menos infeções ou vivam mais tempo”.
E conclui: “O mais provável é que tal aumento seja apenas o organismo a recrutar células para ‘limpar’ o coágulo de sangue criado pela técnica”.
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“O medo é imunossupressor”
Quanto a esta alegação, o médico explica que tanto o medo, como o stress crónico, aumentam a “libertação de cortisol, entre outras alterações fisiológicas, e este parece estar associado ao aumento do risco de infeções“.
Contudo, ressalva que “os estudos nessa área são bastante heterogéneos. É desconhecida a magnitude do impacto do medo e podem existir outros factores que estejam a afetar a relação de suposta causalidade“.
Cerqueira defende, ainda assim, que “adotar medidas de gestão de stress é positivo, de forma transversal, mesmo que o impacto na redução do risco de infeção seja residual”.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: