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Instituto de Virologia de Wuhan pertence a companhia farmacêutica britânica que detém a Pfizer?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Está a ser partilhada nas redes sociais uma lista de correlações na qual se indica que o laboratório biológico de Wuhan pertence à companhia farmacêutica britânica Glaxo que, por sua vez, seria dona da Pfizer. Entre outras alegações, afirma-se que Bill Gates é o principal acionista da Pfizer e o maior financiador da Organização Mundial da Saúde (OMS). Verdade ou falsidade?

“O laboratório biológico chinês em Wuhan é propriedade da Glaxo! Que, por acaso, é dono da Pfizer! (aquele que produz a vacina!) Que, por acaso, é administrado pelas finanças do Black Rock. Quem, por acaso, administra as finanças da Open Foundation Company (SOROS FOUNDATION)! Que, por acaso, atende à francesa AXA”, começa por ler-se na mensagem, que conta com mais de 200 partilhas no Facebook.

“Coincidentemente, ele é dono da empresa alemã Winterthur. Quem, por acaso, construiu o laboratório chinês em Wuhan! Comprado acidentalmente pelos alemães da Allianz. Que, aliás, tem a Vanguard como acionista. Que é acionista da Black Rock. Que controla os bancos centrais e administra cerca de um terço do capital de investimento global Que, aliás, é um dos principais acionistas da Microsoft. Propriedade de quem?”, questiona-se.

“Bill Gates, que só por acaso é acionista da Pfizer (que vende o milagre ‘vaccine’) e atualmente é o primeiro patrocinador da OMS, visto que Trump deixou de financiar esta organização criminosa já há algum tempo, sendo os USA os principais financiadores da OMS”, conclui-se.

Mas terão estas correlações alguma sustentação factual?

“Laboratório chinês de Wuhan pertence à multinacional britânica GlaxoSmithKline (GSK)”

De acordo com um artigo de 2017 da revista científica Nature, a criação do laboratório de biossegurança nível 4 (BLS-4) foi aprovada em 2003 pela Academia Chinesa de Ciências. Foi construído com a ajuda de França, como parte de um acordo cooperativo de 2004 para prevenção e controlo de doenças infecciosas emergentes. O Instituto de Virologia de Wuhan não pertence à companhia farmacêutica britânica GSK. Pertence sim à Academia Chinesa de Ciências que, por sua vez, pertence ao Governo Chinês.

O laboratório em causa tem sido alvo de muita especulação desde o início da pandemia de Covid-19. Chegou a ser apontado, inclusivamente por Donald Trump, como o local onde o novo coronavírus teve origem. Contudo, não há qualquer evidência científica que sustente essas informações.

Avaliação do Polígrafo: Falso

“A GSK é dona da Pfizer”

A grupo farmacêutico norte-americano Pfizer é controlado maioritariamente pelo The Vanguard Group, que possui 7,67% das ações. De acordo com a lista da CNN Business, a GSK não está entre os acionistas da farmacêutica. A única relação entre as duas empresas foi uma “joint-venture” criada em dezembro de 2018, que visou o comércio de produtos relacionados com o alívio da dor, vitaminas, minerais, suplementos e saúde oral.

A plataforma de fact-checking “Maldita.es” questionou a GSK sobre as relações mantidas entre as duas farmacêuticas. A GSK respondeu que “a única relação com a Pfizer é a empresa de joint-venture que foi formada para a área de consumo e a empresa ViiV Healthcare (com foco no HIV), que é um joint venture entre a Pfizer, Shionogi e GSK”.

Avaliação do Polígrafo: Falso

“Bill Gates é acionista da Pfizer e o principal patrocinador da Organização Mundial da Saúde”

Tal como aponta a plataforma de fact-checking AFP, a Fundação Bill & Melinda Gates investiu na farmacêutica para “expandir o acesso ao contracetivo injetável (…) Sayana, dando às mulheres dos países em desenvolvimento uma opção acessível”. Mais recentemente, em setembro de 2020, a fundação informou que iria colaborar com várias companhias que estivessem a trabalhar no desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19. Contudo, nem os Gates nem a fundação figuram entre os principais acionistas da Pfizer.

Ainda que a fundação de Bill e Melinda Gates ocupe um lugar diferenciado na Organização Mundial da Saúde (OMS), não é a maior financiadora da entidade. Neste momento o Governo da Alemanha tem uma fatia superior no que diz respeito às contribuições: 12,18%.

Avaliação do Polígrafo: Falso

Outras relações

A norte-americana BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo, pelo que não é surpresa nenhuma que possua participações em dezenas de empresas e conte com milhares de investidores. Para além da Pfizer (onde detém 5% das ações), a BlackRock investiu também na Apple, Microsoft, Amazon, Facebook, Google, entre muitas outras.

Não há qualquer menção à companhia de seguros francesa AXA no site oficial da Open Society Foundations. A organização filantrópica de Soros também não aparece no organograma da AXA.

Já a Winterthur Group foi uma seguradora suíça que foi adquirida pela AXA em 2006. Não há quaisquer evidências de que tenha tomado parte na construção de qualquer laboratório em Wuhan.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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