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Ingerir “alimentos alcalinos” com elevado “nível de acidez” serve para eliminar o coronavírus?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
"Observe que o pH do coronavírus varia de 5,5 a 8,5. Portanto, tudo o que precisamos fazer para eliminar o vírus é consumir mais alimentos alcalinos acima do nível de acidez do vírus", garante-se em publicação no Facebook, alegando tratar-se de um "conselho dos hospitais de isolamento". Verdade ou falsidade?

É supostamente um “conselho dos hospitais de isolamento“, sublinhando que “podemos ter em casa os cuidados que são tomados nos hospitais”, mas não há qualquer indicação sobre a origem do “conselho”, nem encontramos qualquer registo de que algum hospital em Portugal tenha emitido tal recomendação.

“Observe que o pH do coronavírus varia de 5,5 a 8,5. Portanto, tudo o que precisamos fazer para eliminar o vírus é consumir mais alimentos alcalinos acima do nível de acidez do vírus”, garante-se na mensagem.

Segue-se a apresentação de vários exemplos de alimentos com elevada acidez que devemos ingerir para eliminar o coronavírus, a saber: “Bananas e limão verdes – 9,9 pH; limão amarelo – 8,2 pH; abacate – 15,6 pH; alho – 13,2 pH; manga – 8,7 pH; tangerina – 8,5 pH; abacaxi – 12,7 pH; agrião – 22,7 pH; laranja – 9,2 pH”.

Estas recomendações têm validade científica?

Não é a primeira vez que o Polígrafo sinaliza como falsa a alegação (insistentemente propalada nas redes sociais ao longo dos últimos meses) de que alimentos com um pH alto ajudam a combater (ou mesmo eliminar) o novo coronavírus SARS-CoV-2.

Na maior parte dos casos, trata-se da adaptação para a língua portuguesa de uma publicação que tem circulado em várias outras línguas nas redes sociais e, geralmente, baseia-se em dados de um estudo publicado no ano de 1991 no “Journal of Virology”, uma revista científica norte-americana.

O estudo é autêntico, mas não faz qualquer referência à Covid-19 ou ao novo coronavírus, na medida em que não existiam na altura em que foi elaborado e publicado. Na verdade, o estudo incidia sobre um coronavírus tipo 4 (ou MHV4) e propunha analisar o que acontece no momento em que as células dos ratos com pH entre 5,5 e 8,5 são infetadas com o vírus.

Importa também salientar que a escala da publicação sob análise não está correta. A escala de pH, criada pelo bioquímico dinamarquês Soren Sorensen, funciona de zero a 14: menor que sete significa que um dado alimento tem um pH ácido, igual a sete neutro e superior a sete alcalino. Ou seja, os dados do abacate (15,6) estão errados. Além disso, os valores do pH não são fixos, mas sim aproximados. Os do abacate, por exemplo, situam-se entre 6,3 e 6,6. Logo, tem um pH ácido e não alcalino, ao contrário do que se sugere na publicação.

A ideia de que possam existir alimentos que fortaleçam o sistema imunitário tem sido amplamente difundida nas redes sociais, mas não tem fundamento. António Vaz Carneiro, médico especialista em Medicina Interna, explicou ao Polígrafo que “o sistema imunitário é estável na maior parte dos doentes, a não ser que este tenha alguma doença que o diminua. É habitualmente muito eficaz e não precisamos de o estimular. Temos toda a capacidade na nossa medula óssea de gerar os anti-corpos necessários para o nosso dia-a-dia”.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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