“Ontem [6 de junho], a campanha do Chega foi interrompida por um imigrante que estava instrumentalizado para mentir sobre o Chega. Isto é uma vergonha, e o povo tem que saber a verdade”, destaca-se numa publicação na página do Chega, que foi também partilhada por André Ventura e por vários dirigentes do partido, acusando o indivíduo em causa de mentir.
Sobre as imagens é inserida a seguinte mensagem: “Imigrante mentiroso usado para atacar Ventura.” No vídeo, com suporte em imagens de dois momentos distintos, alega-se que o imigrante disse inicialmente que era trabalhador numa estufa a cortar cravos, além de ser natural do Bangladesh. Mas posteriormente aparece a dizer que era pescador da Indonésia.
No entanto, ao visualizar as imagens na íntegra (como pode verificar aqui), torna-se evidente que não só não foi isso que o indivíduo disse, como as imagens foram propositadamente truncadas.
O que aconteceu e o que disse realmente o imigrante?
Num momento em que André Ventura, rodeado por membros da comitiva e ao lado do seu cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu, Tânger Corrêa, iniciava a arruada no centro da Póvoa de Varzim, Iqbal, um imigrante natural do Bangladesh, pediu para trocar umas palavras com o líder do Chega.
“Diga, diga”, disse Ventura. Iqbal retorquiu com um português arranhado: “Eu quero dizer que eu vim aqui, eu já tenho visto, tenho tudo direitinho, mas você sabe uma coisa? Sabe quanto por cento [qual a percentagem] de pescadores imigrantes? São mais ou menos 85% de pescadores da Indonésia e trabalham muito no duro, mas estão aí, dormem nos barcos.”
Nesse momento, Ventura interrompeu questionando se este trabalhava na pesca. O imigrante respondeu prontamente: “Eu trabalho na estufa, mas nós ajudamos os pescadores porque a minha esposa é da Indonésia.”
“Não quer ficar cá porque só quer uma casa para dormir, mas a empresa não vai pagar salários, eles dormem em barcos, mas ninguém quer resolver isso, não sei porquê, mas muitas pessoas reclamam… não quero dizer. Se uma pessoa da Indonésia é pescador, uma empresa tem 10 pessoas, oito são pescadores da Indonésia. Eu não quero reclamar, mas muitos portugueses não querem trabalhar no mar“, detalha o imigrante.
Ventura, que acusa a SIC de não transmitir a resposta que deu ao imigrante, respondeu assim: “Acredito nisso, muitos portugueses não querem trabalhar no mar, mas esse é um problema da empresa. O Estado não pode estar a dar casas a outras pessoas quando não há para os nossos.”
Iqbal insistiu, questionando quem resolveria o problema, e Ventura reiterou que é preciso uma “pesca forte”, mas que os “direitos de todos” devem ser respeitados.
Questionado pelo líder do Chega sobre se tinha ou não casa, o imigrante indicou que falava em nome de outras pessoas – dos pescadores indonésios que disse ajudar – e não apenas no seu caso pessoal. “Eu não quero dizer, eu quero dizer casa para as outras pessoas, mas também para mim”, justificou.
A partir desse momento, o imigrante disse ter uma filha, nascida em Portugal, que teve de mandar “embora”. “Vi muitas pessoas a reclamar, por isso eu fiz isso. Eu estou muito triste porque eu faço tudo direitinho, quando eu vim para cá, eu tenho visto”, sublinhou entre lágrimas.
Perante este discurso, o líder do Chega garantiu que não iria “esquecer” e que compreendia, mas o que o Chega pretende é que o Iqbal “cumpra as regras”. “Você e todos, está bem?”, concluiu Ventura antes de virar costas.
Posteriormente, Iqbal revelou aos jornalistas que estava em Portugal há três anos, legalizado e com todos os documentos em ordem, mas que decidiu mandar a filha de volta para a Indonésia – de onde é natural a mulher – por sentir cada vez mais hostilidade e racismo contra os imigrantes.
Durante esse momento, houve quem gritasse palavras como “viva Portugal” e exigisse que os jornalistas parassem de “lhe dar palco”, deixando o imigrante em silêncio.
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Avaliação do Polígrafo: