As questões relacionadas com Imane Khelif – a pugilista acusada de ser um “homem biológico” e que, por isso, não deveria competir com mulheres – continuam a circular nas redes sociais, mesmo após a conclusão dos Jogos Olímpicos de Paris. E com muitas dúvidas à mistura.
A insistência na polémica levou mesmo Khelif, agora campeã olímpica, a recorrer à Justiça. Esta segunda-feira, dia 12 de agosto, o seu advogado anunciou que iria apresentar queixa na Justiça francesa por “cyberbullying agravado“.
Apesar de o Polígrafo já ter publicado uma verificação de factos a sinalizar várias falsidades difundidas sobre a desportista, a desinformação persiste nas redes sociais. Por exemplo, numa recente publicação no Threads em que se garante: “Foi criada como menina, mas jogou pelo menos um jogo de futebol numa equipa de homens.”
Nessa publicação é partilhado um breve texto no qual se alega que a pugilista tem “DSD – Differences of Sex Development” e, como tal, “biologicamente falando, é homem“.
Será mesmo assim?
Tal como já foi esclarecido anteriormente, Imane Khelif é uma mulher cis, ou seja, uma mulher que se identifica com o género que lhe foi designado à nascença (feminino). Desde que nasceu, em 1999, que Khelif foi socializada como mulher. Pratica boxe desde criança e sempre competiu em categorias femininas.
No Campeonato Mundial de Boxe Feminino de 2018 na Índia, por exemplo, Khelif não foi além da 17.ª posição. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, ficou pelos quartos-de-final. No Campeonato Mundial Feminino de 2022, em Istambul, ficou em segundo lugar. Segundo a explicação do porta-voz olímpico Mark Adams, o passaporte de Khelif indica que ela é uma mulher.
Também o pai da campeã olímpica sublinhou, em declarações à AFP, que a filha é “uma menina” e que “foi criada como uma menina forte e corajosa”.
De acordo com a organização “Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD)” e a “InterACT“, Khelif terá alegadamente “diferenças de desenvolvimento sexual”, ou DSD. No entanto, isto não quer dizer que seja intersexo, transgénero ou um “homem biológico”. Além disso, não está sequer comprovado que a pugilista tenha uma condição deste tipo.
Caso tenha “DSD”, o que quer isto dizer?
As diferenças do desenvolvimento sexual, ou DSD, são um conjunto de condições raras que envolvem genes, hormonas ou orgãos reprodutivos que podem causar um desenvolvimento sexual diferente do desenvolvimento considerado normativo. Como explica o Serviço Nacional de Saúde britânico, o NHS, tal poderá levar a que a pessoa tenha cromossomas XY, mas se desenvolva como mulher.
Ou seja, quem desenvolva algum tipo de DSD poderá ter, por exemplo, cromossomas geralmente associados a ser mulher (XX), mas desenvolver orgãos sexuais e reprodutivos masculinos, ou, ao contrário, cromossomas geralmente associados ao género masculino (XY), mas com os orgãos sexuais e reprodutivos femininos.
“Isto acontece devido a uma diferença nos genes ou na forma como responde às hormonas sexuais no seu corpo, ou ambos. Pode ser herdado, mas muitas vezes não há uma razão clara para isso acontecer”, explica o site do NHS.
E será que níveis mais elevados de testosterona a tornam mais forte?
Tal como já referido no artigo publicado no dia 2 de agosto, não há evidência científica de que mais testosterona seja sinónimo de melhor desempenho ou capacidade atlética.
Grace Huckins, doutoranda em neurociências na Universidade de Stanford, escreveu na “Scientific American“, em 2021, que “não existe nenhuma evidência de uma relação direta entre os níveis naturais de testosterona e a capacidade atlética em mulheres. Um estudo com atletas de elite suecos não encontrou associação entre a testosterona e o desempenho atlético e um estudo recente com atletas adolescentes na Austrália mostrou uma forte correlação negativa entre os níveis de testosterona nas mulheres e o seu desempenho”.
Ao “Facta“, Huckins argumentou: “Porque é que a baixa produção de ácido láctico de Michael Phelps (que ajuda a evitar a fadiga muscular) ou a altura incomum do falecido jogador da NBA Manute Bol devem ser recompensadas, enquanto que o nível um pouco mais alto de testosterona numa mulher basta para a desqualificar?”
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Avaliação do Polígrafo: