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Imagens de “órfãos voluntários” para trabalhar em minas na Coreia do Norte são autênticas?

Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Circulam nas redes sociais várias fotografias apresentadas como sendo de órfãos norte-coreanos, aparentemente menores, que se "voluntariaram" para trabalhar em locais detidos pelo governo, tais como minas de carvão e zonas de construção. As imagens parecem mostrar uma cerimónia de reconhecimento ou homenagem. Verificação de factos.

“Graduados em escolas de órfãos se voluntariaram para trabalhar em áreas difíceis. Os graduados da Escola para Órfãos de Tonghae e da Escola para Órfãos de Sohae se ofereceram para trabalhar em grandes canteiros de obras para construção socialista com a intenção de glorificar seus jovens na luta pela prosperidade do país. Eles terminaram os seus cursos escolares sob os cuidados calorosos do Partido do Trabalho da Coreia”, lê-se numa publicação no Facebook.

Na fotografia que acompanha o texto do post surgem várias crianças, vestidas com uniformes e com colares de flores, sentadas num pavilhão no que parece ser uma cerimónia de homenagem.

As imagens são autênticas e foram partilhadas pelos órgãos de comunicação estatais da Coreia do Norte, a 28 de maio.

De acordo com a agência noticiosa da Coreia do Norte, a KCNA na sigla em inglês, que apresenta notícias de acordo com os pontos de vista do governo do país, “dezenas de crianças órfãs apressaram-se a chegar ao complexo de mineração de carvão de Chonnae para cumprir o seu juramento de retribuir apenas um milionésimo do amor que o partido demonstrou ao oferecer-lhes material escolar ao longo dos anos”. 

Tal como explica o NK News, um site norte-americano especializado em notícias e análises sobre a Coreia do Norte, os órgãos de comunicação do país noticiaram que “as crianças de dois orfanatos estatais se voluntariaram para trabalhar em minas de carvão e quintas numa demonstração de fidelidade ao partido no poder.

Segundo o mesmo site noticioso, as cerimónias que são retratadas nas fotografias serviram para “congratular as crianças órfãs por se voluntariarem para trabalhar em áreas difíceis e que consomem mão de obra, bem como para glorificar as diretivas do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un”.

A idade das crianças que surgem nas imagens não é referida nas notícias, mas indica-se que são estudantes que completaram o oitavo ano, ou seja, entre 13 e 14 anos.

Milhares de pessoas a chorar nas ruas de Pyongyang, num longo e penoso cortejo fúnebre. Assim é o vídeo de praticamente oito horas que, alegadamente, mostra o funeral de Kim Jong-un, e que põe fim a várias semanas de especulação sobre o estado de saúde do ditador. Se dúvidas restarem, há uma fotografia, também viral nas redes sociais, ondeé possível ver o governante morto, durante o velório. Será, este, o desfecho real do desaparecimento de Kim Jong-un ou são, na verdade, as imagens, o resultado de uma manipulação para disseminar mais uma notícia falsa?

Segundo a Reuters, que também noticiou a utilização de trabalho de estudantes e órfãos nas minas de carvão, um relatório de 2020 do Departamento de Estado dos EUA sobre direitos humanos indica que, na Coreia do Norte, jovens entre os 16 e os 17 anos são colocados em brigadas de construção idênticas ao exército, submetidos a longas horas de trabalho árduo durante pelo menos 10 anos.

“Os estudantes sofrem lesões físicas e psicológicas, má nutrição, exaustão e deficiências no crescimento como resultado do trabalho forçado”, lê-se no relatório mencionado.

Tal como afirma a agência de notícias britânica, a Coreia do Norte já negou várias vezes as denúncias de trabalho infantil e de violação dos direitos humanos e afirma que estes assuntos são utilizados como arma política pelos seus inimigos.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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