“A normalização da pedofilia está em curso. Não, não vai ficar tudo bem”, escreveu Rita Matias, deputada do partido Chega, em publicação de 28 de julho no Facebook, na qual exibe o que parece ser a imagem de um livro infantil, em língua inglesa.
Na imagem é visível uma criança ao colo de um homem identificado como “tio Pete”.
“O meu tio Pete vem cá às vezes. De vez em quando ele vive connosco. Ele é muito gentil comigo – ao segurar-me, ao ouvir-me e ao fazer com que me sinta amado”, lê-se (tradução livre para a língua portuguesa) numa das páginas desse suposto livro.
Na página acrescenta-se: “Uma noite, quando me estava a abraçar, começou a tocar nas minhas partes privadas. Ao longo do tempo ele ensinou-me a tocar e brincar com as dele. Pareceu-me estranho, assustador e um bocadinho bom também. Ele disse que estava tudo bem, que significava que ele realmente me ama. Isto aconteceu durante vários meses. Ele disse-me: ‘Este é o nosso segredo especial'”.

Trata-se de um livro ou história que “normaliza a pedofilia”?
Através de uma pesquisa pela imagem conseguimos identificar o livro em causa. Intitula-se como “Alfie’s Book“ (ou “A Casa de Alfie”, em tradução livre) e foi publicado há cerca de 30 anos. Relata a história de um menino no seio de uma família problemática que foi molestado pelo tio e enfrenta dúvidas sobre a sua orientação sexual.
O autor, Richard A. Cohen, de nacionalidade norte-americana, é um “terapeuta de reconversão sexual” que declara ser “ex-homossexual“. Num artigo do jornal “The Washington Post“, publicado em 2005, afirmava que era “heterossexual” e que tinha como missão ajudar outras pessoas a voltarem a ser heterossexuais.
Cohen dava palestras em 2005, escreveu três livros – entre os quais “Alfie’s Home” – e foi presidente da organização “Pais e Amigos de Ex-Gays e Gays“. No site da organização indica-se que está “comprometida a ajudar ex-gays e pais e amigos de gays que desejam ajuda, esperança e comunidade”.
Acrescenta-se que “existe para educar, apoiar e defender indivíduos e pais sobre a questão da atração pelo mesmo sexo e aumentar a compreensão e aceitação de outras pessoas pela comunidade ex-gay“.
De resto, no artigo do “The Washington Post” informa-se também que, na realidade, Cohen não é um terapeuta licenciado e é o próprio que o admite. Segundo o autor de “Alfie’s Home”, não obteve o licenciamento para terapeuta porque “não queria passar por cima dos obstáculos e lidar com a heterofobia e as atitudes anti-ex-gays“.
Quanto à alegada superação da homossexualidade, Cohen diz que o conseguiu com a ajuda de um mentor heterossexual que lhe deu “o calor do amor do pai”.
Em suma, o livro em causa não promove a “normalização da pedofilia”, de todo. Pelo contrário, relata uma história de relação abusiva de pederastia no sentido de alertar para esse problema e subsequentes impactos psicológicos nas vítimas – resvalando depois para a ideia muito controversa de que ser gay é uma condição reversível e causada por abusos sexuais na infância.
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