As imagens da devastação de um hospital pediátrico (com maternidade) em Mariupol, Ucrânia, alvo de um bombardeamento por forças militares da Rússia na quarta-feira, dia 9 de março, foram transmitidas por órgãos de comunicação social de todo o mundo, com particular atenção para mulheres grávidas feridas a serem evacuadas do edifício destruído, no rescaldo das explosões que provocaram três mortos e vários feridos.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, utilizou as redes sociais para denunciar a “atrocidade” que foi resultado de um “ataque aéreo das tropas russas”, questionando: “Durante quanto mais tempo é que o mundo vai ser cúmplice e vai continuar a ignorar este terror?”
Por seu lado, na quinta-feira, as autoridades da Rússia descreveram o ataque ao hospital em Mariupol como uma “encenação” dos “nacionalistas” ucranianos. “A Força Aérea russa não realizou qualquer missão de destruição de alvos na região de Mariupol”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov. “O suposto ataque aéreo é uma encenação total com fins provocatórios, a fim de alimentar o sentimento anti-russo no Ocidente”.
A tese da “encenação” foi exponenciada nas redes sociais ao longo dos últimos dias, sobretudo através da imagem de uma das mulheres grávidas feridas que, alega-se, na realidade seria uma modelo e influencer (de moda e produtos de cosmética) ucraniana a representar o papel de vítima. Há mesmo quem assegure que nem sequer estava realmente grávida.
“Notícia falsa é reproduzida pela media ocidental. Guerra de informação. (…) Notícia sobre ataque russo à maternidade teve encenação com modelo fotográfica. (…) A imagem da mulher grávida na maca foi uma encenação com uma modelo fotográfica como se fosse uma sobrevivente do bombardeio“, lê-se num dos muitos posts detectados pelo Polígrafo, em múltiplos idiomas.
Não foram apenas utilizadores anónimos que difundiram essa tese conspirativa. A Embaixada da Rússia no Reino Unido também publicou um tweet, através da sua página oficial, no qual identificou a mulher da imagem como Marianna Podgurskaya, uma “blogger de beleza” que terá “representado as personagens de duas mulheres grávidas nas fotografias” captadas em Mariupol.
Esse tweet da Embaixada da Rússia – a par de um outro em que se negava a existência de mulheres grávidas feridas na maternidade (que estaria vazia) – foi entretanto bloqueado pelo Twitter, por violar as regras da plataforma “relacionadas com a negação de acontecimentos violentos“.
O facto é que morreram três pessoas, entre as quais uma criança, vítimas do bombardeamento ao hospital em Mariupol, na Ucrânia. Múltiplos órgãos de comunicação social de todo o mundo, como por exemplo o jornal “The New York Times“, verificaram e confirmaram a autenticidade de diversos vídeos e fotografias que registam o sucedido.
Quanto à mulher grávida ferida que gerou toda esta controvérsia nas redes sociais, dá pelo nome de Marianna Podgurskaya e confirma-se que trabalha como modelo e influencer de moda. Numa das suas páginas no Instagram aparece uma fotografia datada de 24 de janeiro de 2022, na qual aparece visivelmente grávida. Noutra mais recente, de 28 de fevereiro, surge numa fase ainda mais adiantada da gravidez, numa imagem localizada em Mariupol.
De resto, a plataforma espanhola de fact-checking “Maldita.es” recorreu a um software de reconhecimento facial, Microsoft Azure, para comparar as imagens da mulher ferida na maternidade e da mulher grávida no Instagram. E chegou assim à conclusão, “com mais de 76% de confiança”, de que retratam a mesma pessoa, Podgurskaya, claramente grávida nas fotografias de 24 de janeiro e 28 de fevereiro.
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Avaliação do Polígrafo: