No decurso do programa “Entre Políticos” da Antena 1, emitido a 30 de novembro, o secretário-geral adjunto do PS, João Torres, estava a dizer que “o país não empobreceu” nos últimos oito anos de governação do PS, “mas “convergiu com a União Europeia em todos os anos menos um, o que significa que nos aproximámos dos países mais desenvolvidos da União Europeia”, até que foi interrompido pelo secretário-geral do PSD, Hugo Soares, que contrapôs: “Portugal empobreceu, ponto.”
Desafiado por Torres a indicar factos que o comprovem, Soares exemplificou: “O nível de pobreza em Portugal, como sabe, aumentou antes das prestações sociais.”
Após uma série de interpelações de ambos os lados, Soares voltou a sublinhar: “Oito anos de governação socialista, mais pobres antes das prestações sociais. É um dado insofismável e indesmentível.”
Mas Torres garantiu que “não é verdade”. E ambos solicitaram a intervenção do fact-checking do Polígrafo. Quem tem razão?
Não por acaso, dois dias antes, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou novos dados sobre o risco de pobreza em Portugal, mais concretamente os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2023 sobre rendimentos do ano anterior.
Esses dados “indicam que 17% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2022, mais 0,6 pontos percentuais (p.p.) do que em 2021. A taxa de risco de pobreza correspondia, em 2022, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 7.095 euros (591 euros por mês)”.
Representa um aumento em comparação com 2021, mas não com 2015, quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro. O facto é que a taxa de risco de pobreza (após transferências sociais) ascendia a 19% em 2015, tendo baixado para 18,3% logo em 2016, primeiro ano completo de governação de Costa.
Manteve aliás uma trajetória descendente até atingir o ponto mínimo de 16,2% em 2019, mas subiu novamente para 18,4% em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19. No entanto, em 2021 voltou a baixar para 16,4%.
No entanto, Soares estava a referir-se à taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social. “Considerando apenas os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, 41,8% da população residente em Portugal estaria em risco de pobreza em 2022″, apurou o INE.
Ou seja, um decréscimo em comparação com 2021, quando a taxa de risco pobreza antes de qualquer transferência social era de 42,5%.
Também neste indicador, os dados do INE refutam a alegação de Soares: em 2015, a taxa de risco pobreza antes de qualquer transferência social ascendia a 46,1%.
De facto, baixou em todos os anos da governação de Costa (excepto em 2020) até chegar a um ponto mínimo de 42,4% em 2019 (aumentou para 43,5% em 2020, mas entretanto já voltou a cair para níveis historicamente baixos que não se registavam desde o início da crise do subprime em 2008.
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Avaliação do Polígrafo: