“É preciso fazer contas“, defendeu ontem Hugo Soares, secretário-geral do PSD (e prestes a ser eleito para a liderença da respetiva bancada parlamentar), na “Grande Entrevista” à RTP. Estava a justificar uma das afirmações mais marcantes do discurso proferido no dia anterior pelo Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, na cerimónia de tomada de posse do novo Governo da Aliança Democrática, quando avisou que “não ficámos um país rico só porque tivemos um superávite orçamental” e que tal ideia “é perigosa, errada e mesmo irresponsável”.
Depois de ressalvar que “é preciso saber ao certo” o valor do “excedente orçamental”, Soares alinhou com o discurso de Montenegro ao advertir que é “perigoso” difundir a ideia de que tal excedente será suficiente para “cumprir imediatamente tudo aquilo que são as reivindicações de todos os setores”.
E, nesse âmbito, destacou o exemplo das forças de segurança. “Ninguém sabe hoje, nunca ninguém foi capaz de dizer no espaço político, no espaço mediático, quanto é que custa por exemplo procurar fazer a equiparação das forças e dos serviços de segurança – designadamente da PSP e da GNR – com, e bem, os elementos da Polícia Judiciária”, afirmou.
Apesar de o jornalista ter indicado um valor, Soares ainda insistiu que “nunca ninguém disse qual é o valor, nem o Governo“.
Referia-se evidentemente à reivindicação que motivou a vaga de protestos de elementos da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Polícia de Segurança Pública (PSP) ao longo dos últimos meses: um aumento dos respetivos subsídios de risco equiparado ao que foi atribuído à Polícia Judiciária em novembro de 2023, com retroativos a janeiro desse ano.
Mas, ao contrário do que disse Soares, o facto é que o custo inerente a essa medida de equiparação de subsídios foi divulgado no dia 23 de janeiro, num artigo do jornal “Diário de Notícias” que apontou para um valor anual de 154,8 milhões de euros, “de acordo com cálculos que estão a ser feitos entre os comandos destas forças de segurança [GNR e PSP] e o Ministério da Administração Interna”.
Aliás, nesse mesmo dia, o jornal “Correio da Manhã” avançou com a mesma estimativa de 154,8 milhões de euros, referindo-se a “cálculos do Governo” efetuados na véspera de mais uma manifestação de agentes e militares das referidas forças de segurança.
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