"Resumindo, o @fabiogalatico fez compras num valor avultado e, quando foi para pagar, simplesmente disseram que não podiam aceitar que ele pagasse com o seu cartão Multibanco, pois teria de comprovar que o cartão era dele, fazendo o levantar dinheiro para comprovar que o cartão era dele", descreve-se em mensagem associada à publicação do vídeo. "A questão é: se fosse uma pessoa branca bem vestida iriam ter o mesmo procedimento?"

"Para que conste foi chamada a polícia pelo @fabiogalatico que simplesmente perguntou se eram procedimentos do @ikeaportugal. E não há racismo em Portugal. Imaginem se houvesse", conclui-se.

Logo após o vídeo se ter tornado viral, multiplicaram-se as publicações no Instagram denunciando a situação. Eis alguns exemplos de mensagens: "Portugal não é um país racista, claro que não, já não há palavras, a sério, estúpidos"; "Tudo nesta história me revolta. A atitude dos funcionários, o facto de nenhum responsável pela loja intervir, a polícia a ir até ao local e compactuar com isso e o IKEA que agora está a responder a todos a dizer que é esse o procedimento"; "Mas dizem que não há racismo em Portugal. Se soubessem o que muitos de nós passamos só por sermos mais escurinhos".

Confirma-se que o indivíduo em causa foi impedido de pagar as suas compras no IKEA com um cartão bancário?

O autor da gravação, Fábio Silva, publicou dois vídeos nos dias 5 e 6 de julho, nos quais explica o que aconteceu na loja da empresa sueca em Loures. "Aquilo que se passou hoje surpreendeu-me muito, não estava nada à espera, sempre admirei muito a formação deles, a forma como tratam as pessoas, a paciência. Senti-me pequeno, não estava à espera", afirma num dos vídeos.

"Durante a semana já tinha feito várias compras, mostrei-lhes o meu cartão para comprovar as compras que fiz, mostrei o meu cartão de cidadão, a minha carta de condução e fui levantar dinheiro com este cartão para provar que era meu. Disseram que não era suficiente. Entretanto pedi para chamar a polícia e o que me disseram é que eram regras do IKEA e por isso ou pagava em dinheiro como eles exigiam ou não ia poder levar as compras. Isto tem câmaras por todo o lado, venho cá várias vezes e porque estou de chapéu e de máscara acham mesmo que o cartão não é meu? Não faz sentido", desabafa.

"Durante a semana, e tenho provas disso, estive no IKEA e fiz compras com o mesmo cartão e assinei as vezes que tive de assinar. Portanto, sei quais são as normas do IKEA. Aparentemente o IKEA anda a responder a todas as pessoas que me marcaram nas stories a dizer que não quis respeitar os trâmites legais e me recusei a assinar. (...) Vocês acham que faz sentido eu durante a semana ter assinado sempre e no domingo lembrar-me de não assinar? Há câmaras ali por todo o lado. (...) Eu assinei e voltaram a dizer que não era válido porque não tinha o meu nome no cartão, mesmo depois de eu ter apresentado o meu cartão de cidadão e a minha carta de condução e de me ter dirigido ao multibanco para levantar dinheiro", sublinha. Fábio Silva adianta ainda que a loja levantou a possibilidade de agendar uma reunião com ele e com os funcionários que estiveram presentes nesse dia para "resolver as coisas da melhor forma."

Contactado pelo Polígrafo, fonte oficial do IKEA afirma que "o cliente ao chegar à caixa para realizar o pagamento das suas compras apresentou um cartão sem nome e sem assinatura. Ao inserir o seu cartão no terminal de pagamento, o sistema solicitou a assinatura do cliente. A colaboradora procedeu de acordo com o indicado pelo sistema de pagamento."

"Ainda que tenha sido apresentado o documento de identificação, não foi possível à colaboradora a comprovação da titularidade do cartão, uma vez que o mesmo não apresentava titular e assinatura. Considerando o exposto e o facto de não ser possível a verificação da titularidade do cartão, foi solicitado ao cliente que utilizasse um meio de pagamento alternativo", explica a mesma fonte.

"Ainda que tenha sido apresentado o documento de identificação, não foi possível à colaboradora a comprovação da titularidade do cartão, uma vez que o mesmo não apresentava titular e assinatura. Considerando o exposto e o facto de não ser possível a verificação da titularidade do cartão, foi solicitado ao cliente que utilizasse um meio de pagamento alternativo", explica a mesma fonte.

"O cliente referiu que ia realizar o levantamento de dinheiro para comprovar que o cartão era seu mas que exigia fazer o pagamento à mesma com cartão. Toda a interação do cliente foi pautada por um tom agressivo e intimidativo para com os colaboradores da IKEA, com acusações totalmente infundadas. A situação relatada foi um desentendimento com base no tipo de pagamento e no tipo de cartão em particular que este cliente apresentou e não teve qualquer motivação ou fundo de discriminação. Foi realizado um procedimento habitual para qualquer cliente que apresente um meio de pagamento através do qual não seja possível a verificação da titularidade", conclui.

A IKEA confirma que houve de facto uma tentativa de agendar uma reunião: "Queremos sempre resolver as situações da melhor forma sim. É objetivo da IKEA esclarecer a situação diretamente com o senhor. Ele não nos deu essa oportunidade e a IKEA quer ter a oportunidade de explicar a questão do pagamento que, obviamente, nada teve que ver com o que o senhor diz que teve".

A IKEA confirma que houve de facto uma tentativa de agendar uma reunião: "Queremos sempre resolver as situações da melhor forma sim. É objetivo da IKEA esclarecer a situação diretamente com o senhor. Ele não nos deu essa oportunidade e a IKEA quer ter a oportunidade de explicar a questão do pagamento que, obviamente, nada teve que ver com o que o senhor diz que teve".

O Polígrafo contactou Fábio Silva, autor do vídeo, que explica que "estava a usar um cartão de débito que não tinha nome do titular, nem à frente nem atrás". "Não é preciso pin, basta uma assinatura e era só compararem a assinatura que eu tinha feito na máquina com a do cartão de cidadão. Perguntei se assinando na altura poderia utilizá-lo mas disseram que não. Fui levantar o dinheiro mas quis pagar com cartão, porque não fazia sentido não o poder fazer", assumiu. Ainda assim, o cliente acabou por efetuar a compra em numerário.

À pergunta sobre se tenciona ir à reunião proposta pela IKEA, Fábio Silva responde que sim. "Vou a essa reunião com a minha advogada", diz, garantindo também que irá avançar com um processo judicial.

Em nota enviada ao Polígrafo, a PSP confirma que foi chamada pelos funcionários do IKEA, sublinhando que "foi elaborada uma participação a relatar os factos decorridos com um cidadão que teve um comportamento insultuoso, após ter sido solicitado a confirmar a sua identificação, por forma a comprovar se era o titular do cartão de pagamento que possuía para efetuar o pagamento das compras. O cidadão, além de ter recusado mostrar o seu cartão de cidadão, injuriou os funcionários do IKEA, motivo pelo qual a PSP foi chamada a intervir".

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Nota editorial: Este artigo foi atualizado às 13h54m com as declarações da PSP.

Avaliação do Polígrafo:

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