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Habitação. Moedas disse que “apoiar os mais pobres ou a classe média não vai resolver nada”?

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Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Está a ser difundido no Twitter um vídeo com declarações proferidas por Carlos Moedas em setembro de 2021, ainda no papel de candidato à presidência da Câmara de Lisboa. Referindo-se a medidas para o setor da Habitação, Moedas terá dito que "apoiar os mais pobres ou a classe média não vai resolver nada, são gotas de água. Esses disparates da esquerda ideológica é que têm feito os preços subir".

O tweet data de 23 de fevereiro de 2023, mas exibe um vídeo de setembro de 2021. Mais precisamente, um excerto do vídeo de uma entrevista concedida por Carlos Moedas à TVI24, na altura em que era candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa.

Em comentário ao vídeo, no tweet destaca-se a seguinte mensagem em forma de citação:

Apoiar os mais pobres ou a classe média não vai resolver nada, são gotas de água. Esses disparates da esquerda ideológica é que têm feito os preços subir. Aquilo que precisamos é aliviar o sofrimento dos jovens que têm 250 mil euros para comprar uma casa. Mas é ridículo porquê?”

Moedas referia-se a medidas direcionadas para o setor da Habitação, num contexto em que defendia que os jovens deveriam beneficiar de um alívio do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) na compra de casa.

Nesse sentido destacou um exemplo:

“Porque é que é ridículo se há jovens que são profissionais, que hoje compram casas e que pagam, para uma casa de 250 mil euros, 8 mil euros em impostos?”

Sobre os jovens no nível abaixo, Moedas dava como resposta a habitação acessível. Afinal, o seu propósito era “ajudar por inteiro”.

“Para esse nível abaixo temos a renda acessível e depois temos as medidas sociais. Temos que ajudar a sociedade por inteiro. Não podemos estar aqui a pensar que são só os municipais ou que é só a acessível. Isso não vai resolver, são gotas de água. E isso tem sido o problema ideológico que está ligado à esquerda ideológica em Portugal, como é o caso do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista que não deixam Lisboa funcionar, que travam a oferta da habitação e que os preços sobem (Sic)”, declarou.

“A culpa é disso e nós temos que ser diretos. Quando diz que é ridículo, mostra aquilo que eu estou a ver. É que é capaz de estar influenciada por uma ideologia de esquerda que está a minar o país. E nós temos que ser sérios e dizer aquilo que pensamos”, concluiu o então candidato à presidência da Câmara de Lisboa que acabou mesmo por suceder a Fernando Medina nesse cargo.

Depois de mais um fim de semana com avisos laranja para alguns distritos a Sul, Moedas viu levantar a pressão sobre a cidade de Lisboa, onde os habitantes esperam a concretização de uma das obras mais importantes do Plano Geral de Drenagem: os túneis de Monsanto-Santa Apolónia e de Chelas-Beato. Sobre o projeto, Moedas garante ter sido o próprio a consignar a obra, o que corresponde à realidade, mas que não passa de uma formalidade, tendo em conta que todo o processo - adjudicação feita, contrato assinado e até um prazo de execução - estava fechado antes de o social-democrata assumir funções.

Colocando lado-a-lado as declarações citadas no tweet e as proferidas, verificamos que as primeiras não correspondem exatamente às segundas. Mas o facto é que apontam no mesmo sentido. Moedas disse que as medidas que abrangem por norma os mais desprotegidos (como a “renda acessível”) não iriam resolver o problema e que seriam apenas “gotas de água”.

A culpa? Da “esquerda ideológica”. A qual terá ainda, segundo Moedas, responsabilidades sobre “a oferta da habitação” e o “aumento dos preços”.

Quanto à última frase – “Aquilo que precisamos é aliviar o sofrimento dos jovens que têm 250 mil euros para comprar uma casa. Mas é ridículo porquê?” -, que terá uma componente irónica, não foi proferida dessa forma por Moedas.

Na realidade disse que “há jovens que são profissionais, que hoje compram casas e que pagam, para uma casa de 250 mil euros, oito mil euros em impostos”. E que precisam de ser, também eles, “ajudados”.

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Avaliação do Polígrafo:

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