“Amantes da lama: eles transformam as poças num paraíso”, comenta-se numa das publicações (neste caso no X/Twitter) da imagem em causa. É uma suposta capa da revista “Time” que destaca a figura de António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), classificando-o aliás como “o especialista em pântanos: normalizando terroristas, esquecendo reféns“.
Esta imagem surge num determinado contexto a ter em atenção: esta semana, ao discursar numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, Guterres disse ser “importante reconhecer” que os ataques do Hamas contra Israel “não aconteceram do nada“, sublinhando que o povo palestiniano “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”; perante tal declaração, o embaixador israelita junto da ONU considerou que Guterres “não está apto para liderar a ONU” e pediu que “renuncie imediatamente” ao cargo.
Terá esta situação de grande tensão diplomática levado a “Time” a referir-se a Guterres – em plena capa da revista norte-americana – como “o especialista em pântanos” que “normaliza terroristas”?
Não. Na realidade, esta imagem não passa de uma distorção ou adulteração gráfica de uma verdadeira capa da revista “Time” com Guterres em destaque que foi publicada em junho de 2019, há mais de quatro anos.
“O nosso planeta está a afundar-se” é o título original da capa verdadeira de 2019. Guterres surge de fato e gravata, enquanto secretário-geral da ONU, com água pelos joelhos. “Oceanos a subir, residentes em fuga, aldeias a desaparecer”, destaca-se.
No âmbito da produção dessa capa, Guterres foi até à costa de Tuvalu, na Polinésia, para ser fotografado. Sobre as alterações climáticas, afirmou à revista que “são uma área onde as Nações Unidas têm obrigação de assumir liderança global”, apelando a que “todos se juntem”, porque “é absolutamente essencial para o planeta reverter a situação atual”.
Na capa falsa, além da modificação dos títulos de destaque, também o fundo da imagem é manipulado: em vez da linha de horizonte do Oceano Pacífico surgem as paredes da sala de plenário da Assembleia Geral da ONU, na sede da instituição em Nova Iorque.
Quanto às referências a “pântano”, importa esclarecer que remetem para o momento em que Guterres anunciou que se demitia do cargo de primeiro-ministro de Portugal, em dezembro de 2001, no rescaldo de um resultado menos positivo do PS nas eleições autárquicas.
A partir desse anúncio, em que Guterres se referiu a um “pântano político”, tornou-se comum associar o ex-líder do PS a tal expressão – no sentido de ter promovido ou ser responsável pelo “pântano político”. Mas a verdade é que Guterres afirmou que se demitia precisamente para evitar um “pântano político“.
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