Elon Musk, fundador e dono da Tesla, da SpaceX e do X, utilizou a sua rede social (no dia 15 de abril) para chamar a atenção para o declínio da população na Grécia, alertando que este é um dos países “entre dezenas que irá experienciar o colapso populacional devido às baixas taxas de natalidade”.
O problema não está na alegação escrita por Musk, mas sim no conteúdo do tweet que partilha. Este indica que se prevê que a “Grécia se torne a primeira nação a sofrer um ‘colapso populacional'” devido a “mortes súbitas e inesperadas que continuam a aumentar em todo o país, enquanto as taxas de natalidade caem para níveis inferiores aos que os especialistas anteriormente pensavam ser possíveis”.
O tweet replica um excerto de texto de um artigo do The People’s Voice (cujo link é partilhado nesse tweet), conhecido por ser um site que partilha recorrentemente desinformação, que aponta o seguinte: “Insuficiência cardíaca, acidentes vasculares cerebrais, coágulos sanguíneos e cancros de aparecimento rápido entre jovens saudáveis fizeram com que as taxas de mortalidade disparassem na Grécia, enquanto os níveis de fertilidade em jovens do sexo masculino e feminino fizeram com que a taxa de natalidade caísse drasticamente, registando o mais baixo número de nascimentos em quase um século”.
O site faz ainda a ligação entre um alegado aumento da taxa de mortalidade na Grécia com a vacinação contra a Covid-19, misturando uma série de factores.
No entanto, no que à taxa de mortalidade diz respeito, entre 2018 e 2024, o máximo atingido foi em 2022, ano em que foram atingidos picos de mortes diárias causadas pela pandemia. Desde então, a taxa de mortalidade tem vindo a reduzir-se, segundo dados provisórios de 2023 e 2024 do serviço estatístico da Grécia, o “Hellenic Statistical Service”.
O principal problema é mesmo a baixa taxa de natalidade que, em 2022, atingiu o número mais baixo em 92 anos, segundo os dados mais recentes. Numa reportagem da agência Reuters informa-se que estes queda da taxa de mortalidade se deve à “crise da dívida que levou a anos de austeridade, emigração e mudanças de atitude entre os jovens”.
Estima-se que possa existir uma nova queda em 2023, segundo dados ainda provisórios, tendo levado o Governo a preparar uma série de medidas, que serão conhecidas em maio de 2024, para impulsionar as taxas de natalidade.
Além disso, o problema é transversal a outros países. De acordo com um estudo publicado em março de 2024 pela revista científica The Lancet, estima-se que até 205o mais de três quartos dos países (155 de 204) não tenham taxas de natalidade suficientemente elevadas que permitam manter a dimensão da população. Esta estimativa aumenta para 97% dos países até 2100.
Os autores do estudo lançam o alerta para o governos estarem preparados para possíveis ameaças emergentes às economias, à segurança alimentar, à saúde, ao ambiente e à segurança geopolítica desencadeadas pelas mudanças demográficas que se antevêem.
Em suma, o problema não está relacionado com a pandemia ou com a vacinação contra a Covid-19, mas sim, e é aqui que o tweet tem fundamento, com a baixa taxa de natalidade do país, uma das mais baixas da Europa.
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