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“Governo regional de direita em Valência não quis pedir ajuda” imediata depois das cheias que afetaram a região, como disse Catarina Martins?

O que está em causa?
Ontem à noite, no programa Linhas Vermelhas, transmitido na SIC Notícias, a eurodeputada do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, criticou a acção do Governo regional de Valência na sequência das cheias que assolaram a região, acusando-o de não “querer pedir ajuda de outras regiões” e do Governo, atrasando o apoio às populações afetadas. Tem razão?

A 29 e 30 de outubro, chuvas torrenciais afetaram várias territórios no Sul e Leste de Espanha, entre as quais a Comunidade Valenciana, onde morreram já mais de 200 pessoas e há centenas de desaparecidos. Quatro dias depois das cheias, o chefe do Governo, Pedro Sanchéz, os Reis de Espanha, Felipe VI e Letícia, e o presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, visitaram uma das populações mais afetadas, na cidade de Paiporta, e foram recebidos por populares indignados que chegaram mesmo a atingir com lama os membros da família real.

A propósito do sucedido, a eurodeputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins, no programa “Linhas Vermelhas”, transmitido ontem à noite na SIC Notícias, acusou o Governo regional da Comunidade Valenciana de não ter sido célere no pedido de ajuda para dar apoio às populações afetadas pelas chuvas torrenciais. 

“O Governo regional, que é de direita, não quis pedir ajuda, não quis sequer ajuda de outras regiões, que mandaram bombeiros, e atrasou tudo. Depois lá pediu ajuda”, começou por afirmar a ex-líder bloquista, antes de acrescentar que a acção do Governo espanhol também não foi a melhor: “Também é verdade que Sanchéz terá atrasado a ajuda e houve aqui um passa culpas entre a direita e o Governo.”

Mas será verdade que o Governo regional de Valência demorou a pedir ajuda depois das cheias?

Sim. De acordo com o “El País”, Carlos Mazón, presidente da Comunidade Valenciana, do Partido Popular (PP), só pediu ajuda ao Governo espanhol a 2 de novembro, quatro dias depois de as chuvas torrenciais atingirem a região de Valência. A decisão de Mazón surgiu horas depois de Sanchéz apelar a que a Comunidade Valenciana pedisse “mais meios” ao Governo central, se estes fossem necessários. 

Além disso, várias corporações de bombeiros explicaram nas redes sociais alguns impedimentos que tiveram na chegada aos locais afetados pelas cheias. Segundo a Maldita, que cita jornais como o El Salto e o Infobae, os bombeiros da Generalitat da Catalunha enviaram uma equipa de apoio para Valência a 30 de outubro, que terá depois recebido ordens para regressar, antes de chegar ao local. Alegadamente, o governo regional terá recusado a colaboração destes bombeiros.

Numa publicação no Instagram, os bombeiros deixaram uma mensagem de apoio às populações afetadas e às equipas de emergência, que incluía, inicialmente, um trecho que, segundo a Maldita, acabou por ser eliminado, onde deixaram críticas ao Governo regional valenciano, dizendo que depois de serem chamados foram obrigados a regressar: “Não entendemos esta decisão do governo valenciano ao ver a magnitude do desatre.”

Nos dias seguintes, porém, os bombeiros da Catalunha confirmaram, no X, estar a trabalhar em zonas afetadas em colaboração com o Consórcio de Bombeiros da Comunidade Valenciana.

Foram ainda enviados três helicópteros desde a Andaluzia, no dia 30 de outubro, para a Comunidade Valenciana, de acordo com Juanma Moreno, presidente da Andaluzia. Segundo o elDiario, citado pela Maldita, os helicópteros acabaram por regressar dois dias depois “porque ninguém lhes atribuiu alguma tarefa na zona do desatre”. No dia seguinte, porém, Moreno escreveu no X que tinha disponibilizado três helicópterios, 69 veículos, 245 efectivos (bombeiros, polícias, enfermeiros) e seis cães para ajudar nas operações de resgate em Valência.

Mas poderia o Governo de Sanchéz ter feito alguma coisa para acelerar a prestação de ajuda à Catalunha ao invés de aguardar pelo pedido de ajuda do Governo regional? Sim. Ainda que o nível de emergência se tenha mantido em 2 (só a partir do 3 é que a gestão de crise passava para o Governo espanhol), o executivo de Sanchéz poderia, de acordo com Lei do Sistema de Protecção Civil, subi-lo.

Havia ainda a hipótese, segundo a lei orgânica 4/1981 de 1 de junho dos estados de emergência, exeção e sítio, de “declarar o estado de emergência, em todo o território nacional”. A lista de “alterações graves da normalidade” que justificam esta medida inclui, logo no primeiro ponto, “catástrofes, calamidades ou desastres públicos como terramotos, inundações, incêndios urbanos e florestais ou acidentes de grande magnitude”.

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Avaliação do Polígrafo:

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