Uma proposta polémica com regras para promover uma linguagem não-discriminatória nas Forças Armadas foi apresentada durante o Governo socialista, em 2020. A diretiva mencionava estratégias de “neutralização ou abstração” no setor e causou indignação entre os militares, que a consideraram “uma baboseira e uma provocação”. Recentemente, a 20 de janeiro, um internauta trouxe de novo o tema para as redes sociais.
“Já foi revertida a diretiva do Ministério da Defesa Nacional socialista de impor a linguagem neutra ‘woke’, sem género, nos documentos oficiais militares?”, questionou o utilizador num grupo de Facebook.
Mas será que o PS impôs uma linguagem não-discriminatória adotada agora pelo PSD?
Apesar de ser recente, a publicação contém uma pergunta que surge descontextualizada, uma vez que aborda um projeto que foi anulado pouco tempo depois de ser divulgado.
A diretiva mencionada, elaborada pela secretária-geral do Ministério da Defesa, foi enviada ao Estado-Maior das Forças Armadas e aos três ramos militares em setembro de 2020. A proposta, a que a TSF teve acesso e que estava datada de 18 de setembro, tinha como objetivo “salientar a importância para a utilização de linguagem sensível ao género”.
No entanto, a 2 de outubro a comunicação social teve acesso a um despacho assinado por João Gomes Cravinho (PS), o então ministro da Defesa, no qual se referia que estavam “anulados” os ofícios da Secretaria Geral do Ministério com as orientações sobre o uso desta linguagem. O ex-governante optou por recuar com a proposta por considerar que o documento não evidenciava o “estado de maturação adequado” e que existiam “medidas mais relevantes” em curso.
“Tinha elementos descabidos“, disse o ex-governante em resposta ao Polígrafo. “Tratou-se de uma iniciativa por parte dos serviços, sem qualquer orientação política. Tendo sido anulada, a diretiva não teve qualquer seguimento. Dito isso, considero que há alguns elementos de linguagem utilizada no Ministério da Defesa que carecem de atualização, mas não houve oportunidade de fazer esse trabalho no período em que fui Ministro da Defesa Nacional”, esclareceu.
Em 2021, a coordenadora do Gabinete de Igualdade do ministério da Defesa, Diana Morais, também referiu, em declarações à agência “Lusa”, que a linguagem no setor exigia “uma maior reflexão para passos consistentes”. Mas o que dizia a proposta?
“Na língua portuguesa é comum o recurso à utilização do género masculino para designar as pessoas de ambos os sexos, o que gera indefinições quanto às pessoas, homens e mulheres a que se refere, e torna as mulheres praticamente invisíveis na linguagem“, pode ler-se no documento a que a TSF teve acesso, datado de 18 de setembro de 2020.
Escrever “coordenação” em vez de “coordenador”, “quem participa” em vez de “os participantes” e “boas vindas a todas as pessoas” em vez de “sejam bem-vindos” eram algumas das alternativas sugeridas. As regras aplicavam-se não só à escrita como ainda à oralidade e na comunicação oral.
Em suma: é verdade que a medida foi elaborada pelos socialistas, mas não teve seguimento ou aplicação, ao contrário do que se sugere no “post”.
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Avaliação do Polígrafo: