"Zelensky ordenou a destruição de qualquer livro publicado, traduzido ou escrito na língua russa, incluindo clássicos como os de Tolstói ou Dostoiévski. Desde a queima de livros na época de Adolf Hilter que não se via nada igual. Pior: países da NATO encobriram a notícia", acusa-se na publicação que tem sido partilhada no Facebook e também no Twitter.

É uma descrição ou comentário ao que parece ser uma notícia, ilustrada por uma fotografia de livros a arder, com o seguinte título em destaque:

"Governo de Zelensky ordenou a destruição de 100 milhões de livros."

Quanto à suposta notícia, o Polígrafo detetou algumas publicações online (quer em blogs quer em fóruns), mas nenhuma das quais associada a um órgão de comunicação minimamente credível. Mais insólito ainda é que a fotografia afixada nos posts é a mesma que foi partilhada, há pouco mais de dois meses, por ucranianos que acusavam o Governo da Rússia de estar a queimar livros de História da Ucrânia.

Mais uma vez - o Polígrafo verificou publicações similares em junho -, a fotografia está a ser utilizada fora de contexto, dado que foi captada em 2010, durante uma manifestação pró-Rússia na península da Crimeia (invadida e anexada à Ucrânia por forças militares russas em 2014).

Tal como apurou a plataforma de verificação de factos da "France 24", no dia 14 de março de 2010, representantes do Partido Socialista Progressista da Ucrânia de Natalia Vitrenko, uma força partidária pró-Rússia, realizaram um protesto em Simferopol, na Crimeia, onde foram queimados livros sobre a História moderna da Ucrânia. Um arquivo de imagens ucraniano tem disponíveis várias fotografias do protesto e da queima de dezenas de livros, comprovando-se que são os mesmos que surgem na imagem que foi partilhada em maio e que voltou às redes sociais agora em julho.

Quanto à destruição de 100 milhões de livros, não há factos que comprovem que Volodymyr Zelensky o tenha ordenado. No entanto, a 5 de maio deste ano, o Ministério da Cultura e da Política de Informação da Ucrânia quis, de facto, remover literatura russa das coleções disponíveis em livrarias. Tudo para a substituir "por literatura de qualidade em língua ucraniana e por livros de editoras ucranianas".

"A propaganda é uma arma perigosa. Hoje, as mentiras russas estão a envenenar tudo ao seu redor. Temos que combater esse fenómeno através de todos os meios. Atualmente, o Ministério definiu critérios claros de acordo com os quais a literatura russa será removida dos fundos das bibliotecas ucraniana. Abordamos esta questão com cuidado e esperamos que tenha um impacto positivo no desenvolvimento da publicação de livros ucranianos", disse Larisa Petasyuk, vice-ministra da Cultura e da Política de Informação da Ucrânia.

Todas as publicações cujo conteúdo visasse "eliminar a independência da Ucrânia, promover a violência, incitar a inimizade interétnica, racial, religiosa, cometer atos terroristas, infringir os direitos humanos e as liberdades", ou ainda promover "a guerra, a inimizade nacional e religiosa, alteram através da violência a ordem constitucional ou a integridade territorial da Ucrânia", deviam ser eliminadas, recomendou o Ministério.

Além disso, mais recentemente, a 19 de junho, a agência Reuters noticiou que o Parlamento ucraniano votou para aplicar várias restrições a obras da Rússia e que, nesse sentido, viria a ser proibida "a importação comercial de livros impressos na Rússia, Bielorrússia e território ucraniano ocupado, além de exigir permissão especial para a importação de livros em russo de qualquer outro país".

Em suma, nem destruição, nem 100 milhões de livros: apesar da intenção do Governo da Ucrânia de censurar e restringir a circulação de obras russas, não há factos que comprovem que Zelensky tenha ordenado a destruição de tão elevado número de livros. Além de a imagem não ser atual e retratar, na verdade, a queima de livros sobre a História da Ucrânia.

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