Esta é a história do lado B de um single dos anos 60, de um DJ que encontrou o disco em Filadélfia, EUA, e passava esse mesmo lado B num influente clube noturno em Bolton, Inglaterra, da namorada de Marc Bolan, líder do grupo de glam rock britânico T. Rex, e de
Pelo caminho acontece um acidente rodoviário, num Mini, que deixa os T. Rex sem líder e arruina a carreira de uma americana a viver em Inglaterra.
Começando pelo single: “My Bad Boy’s Comin’ Home”, de Gloria Jones, tinha um lado B que superou claramente o lado A – “Tainted Love”, canção escrita por Ed Cobb, cantor, compositor e líder dos Four Preps.
Agora, o momento em que o DJ entra em cena. Richard Searling, apaixonado pela música soul, descobre o single em Filadélfia, nos EUA, em 1973 e “Tainted Love” passa a fazer parte do seu DJ set no Va Va’s, em Bolton, Inglaterra, uma referência no domínio da música soul.
A canção haveria de ser grava novamente por Jones, numa nova versão, em 1976, para o álbum “Vixen”. Contudo, antes, a cantora norte-americana conhecera Marc Bolan, que seria mais do que o produtor daquele disco. O primeiro encontro aconteceu quando Jones integrava o elenco do musical “Hair”, em Los Angeles. Corria o ano de 1969. Voltariam a cruzar-se em Londres, 3 anos mais tarde e, durante a digressão dos T. Rex pelos EUA, Jones foi sugerida a Bolan como mais-valia para voz de suporte da banda.
Já como elemento integrante dos T. Rex, Jones envolve-se com Bolan e foi a sua companheira até ao despiste que resultaria na morte do líder dos T. Rex. Jones seguia ao volante do Mini 1275 GT na noite de 16 de setembro de 1977, quando ambos regressavam a casa depois de jantar. Jones regressou a Los Angeles com o filho de ambos, Rolan. Os T. Rex deixaram de existir.
Quarto ato: Foi durante a fase em que “Tainted Love” se afirmou como hit soul que Marc Almond descobriu a canção, apresentada pelo seu parceiro nos Soft Cell, Dave Ball. O duo estava a começar, no final dos anos 70, e decidiram reinterpretar uma canção conhecida para usar nos concertos. A primeira escolha caiu sobre “The Night”, de Frankie Valli & The Four Seasons, mas acabariam por optar pela sua visão, mais eletrónica, de “Tainted Love”.
No livro “1000 UK Number Ones” Marc Almond recorda o primeiro contacto com a canção: “Gostei muito e nós queríamos um tema para o encore nos nossos concertos. Era uma novidade uma banda de música eletrónica assente em sintetizadores interpretar uma canção soul. Quando assinamos contrato com a nossa editora eles quiseram gravá-la. De repente, a canção estava a ter airplay nas rádios e depois chegou a número um. Eu estava fascinado pelo facto de ter sido originalmente gravada por Gloria Jones, a namorada de Marc Bolan. Sempre fui fã de T. Rex.”
Com os Soft Cell a canção desacelera, os sintetizadores entram em cena e a voz de Marc Almond fez o resto. “Tainted Love” cristalizou-se, assim, como hit dos anos 80 e marco incontornável do synth pop. Inabalável, também, resistindo às diversas versões que foram, entretanto surgindo. A versão de 1981 aguenta-se muito bem mesmo quando “atacada”, por exemplo, por Marilyn Manson que recuperou o tema para a banda sonora do Filme de 2001 “Not Another Teen Movie”, uma sátira aos típicos filmes de teenagers dos anos 80 e 90. O disco aplica músculo sonoro a várias canções de outros tempos. A fórmula é simples: colocar bandas que se afirmaram nos anos 90 a reinterpretar canções da década anterior. E é assim que, entre outras – “Blue Monday” dos New Order tocada pelos Orgy ou “Never Let Me Down Again” dos Depeche Mode numa versão dos Smashing Pumpkins (de 1994) – reaparece “Tainted Love”. Marilyn Manson retirou-lhe o ambiente eletrónico e acrescentou doses generosas de riffs de guitarra estridentes.
Suficiente para apagar do nosso imaginário a voz de Almond e os sintetizadores dos Soft Cell? Não. Definitivamente, não.
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