O ministro das Infraestruturas, João Galamba, falou ontem no Parlamento pela primeira vez depois de ter sido constituído arguido no inquérito aos negócios do lítio e hidrogénio verde batizado por "Operação 'Influencer'". O assunto a debater era a apreciação na especialidade da Proposta de Lei n.º 109/XV/2.ª (GOV), que aprova o Orçamento do Estado para 2024 (salvaguardado pelo Presidente da República), mas Galamba não escapou às questões dos deputados sobre a investigação em que está envolvido e cujos pormenores continuam a avolumar-se.

Após ser questionado por três vezes pelo deputado Paulo Moniz, do PSD, sobre se iria demitir-se, Galamba viu-se forçado a responder: "A formação do Governo é da responsabilidade do Primeiro-Ministro. Se me pergunta se eu tenciono apresentar a minha demissão, não, não tenciono".

Mas será este é o comportamento habitual de um membro do Governo após ser constituído arguido?

No caso dos Governos de Costa é frequente que, mesmo sob suspeita ou investigação do Ministério Público (MP), os membros do Governo mantenham a confiança política do agora Primeiro-Ministro demissionário. Ainda assim, quando constituídos arguidos, a demissão surge ou antes ou imediatamente depois.

Exemplo disso é o denominado caso "Galpgate", no qual o MP acusou 18 dos 26 arguidos do caso das viagens ao Euro 2016 que a Galp pagou a governantes e autarcas, que se viram então suspeitos do crime de recebimento indevido de vantagem. Além de assessores e chefes de gabinete, os três secretários de Estado - Jorge Oliveira, Fernando Rocha Andrade e João Vasconcelos (os dois últimos entretanto faleceram), mas Costa manifestou confiança política apesar das suspeitas. Os três secretários de Estado foram acusados e acabaram por se demitir em 2017, mas antes de serem constituídos arguidos.

Em 2019 há outro caso: as golas "anti-fumo". Artur Neves, ex-secretário de Estado da Proteção Civil, foi formalmente acusado em julho desse ano pelo MP depois de lhe ser imputada a prática de factos que consubstanciam crimes de fraude na obtenção de subsídio, participação económica em negócio e abuso de poder no caso das golas anti-fumo. A demissão aconteceu dois meses depois de ser acusado, mas ocorreu após o visado saber que tinha sido constituído arguido.

Eduardo Cabrita, Azeredo Lopes, Miguel Macedo foram outros três ministros que se demitiram por terem sido visados criminalmente, mas também nestes casos a demissão ocorreu antes da constituição como arguidos.

Outro caso é o de Miguel Alves, ex-secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, que foi acusado do crime de prevaricação no âmbito de um processo que veio da Operação Teia. Alves já tinha sido constituído arguido em dois inquéritos de criminalidade económico-financeira e visado num outro, segundo noticiou o jornal "Observador", antes de integrar o Governo. Mas ao ser constituído arguido pelo MP, dois meses depois de tomar posse, acabou por pedir a demissão no mesmo dia.

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