“Bomba: vazam documentos da Fundação Gates, OMS e Instituto de Virologia de Wuah”. Este é o título de uma notícia, a circular nas redes sociais, onde se revelam detalhes de um alegado ataque informático e também do conteúdo dos documentos tornados públicos pelos hackers, com a pandemia de Covid-19 como tema central.
Na publicação, diz-se ainda que o empresário norte-americano e CEO da empresa de comunicação digital Yuko Social, Mike Coudrey, revelou no Twitter que a informação hackeada demonstrava que o novo coronavírus tinha sido manipulado com “componentes do VIH” e “fabricado artificialmente”, criando mais uma teoria da conspiração que responsabiliza o fundador da Microsoft, Bill Gates, pelo aparecimento da pandemia. “E aqui está a bomba. Depois de alguém ter usado as credenciais para aceder aos documentos vazados sobre Wuhan, descobriram documentos que mostram a emenda do coronavirus com componentes do VIH, reiterando ainda mais a noção de que o agente patogénico foi fabricado artificialmente”, é a declaração atribuída ao norte-americano.
Estas alegações são verdadeiras? Há dados que comprovem a manipulação do novo coronavírus em laboratório? Verificação de factos.
No dia 22 de abril, o jornal norte-americano “The Washington Post” revelou que cerca de 25 mil e-mails e passwords alegadamente pertencentes à Fundação Bill & Melida Gates, à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao Instituto de Virologia de Wuhan -cidade chinesa onde começou a pandemia -, entre outras organizações, tinham sido expostos online e rapidamente utilizados por elementos de grupos da extrema-direita para atacar alguns desses organismos.
“Usando os dados [hackeados], extremistas da extrema-direita apelaram a uma campanha de assédio, enquanto partilhavam teorias da conspiração sobre a pandemia de coronavírus”, disse ao mesmo jornal Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, ONG norte-americana que rastreia a atividade online de organizações jihadistas e supremacistas brancas.
Em reação, a Fundação Bill & Melinda Gates explicou que estava a monitorizar a situação, mas que não tinha indicações de ter havido uma fuga de informação no organismo. Quanto à OMS, assumiu ter sido alvo de um ataque informático, mas que apenas 457 das 6.835 credenciais expostas estavam ainda ativas – e foram logo alteradas.
A plataforma brasileira de fact-checking “Boatos.org“ salienta que o conteúdo pirateado não foi verificado, não se sabendo se os dados realmente pertenciam a funcionários das referidas instituições e se as informações obtidas são verdadeiras. O site “Heavy” assegurou, segundo a mesma fonte, que elementos do fórum online “4chan” procuraram investigar os dados, mas não encontraram nada de relevante. Ainda assim, alguns membros do fórum não hesitaram em espalhar informação pelas redes sociais, lançando acusações de que a Fundação Bill & Melinda Gates tinha ajudado a criar o novo coronavirus em laboratório.
As informações que dão como garantindo que o SARS-CoV-2 tem origem artificial têm vindo a ser desmistificadas constantemente pela OMS desde o início da pandemia. No início deste mês, uma equipa de especialistas da OMS partiu para a cidade de Wuhan com o objetivo de investigar como o vírus passou dos animais para os humanos. A grande maioria dos investigadores acredita que o vírus teve origem em morcegos, mas procura saber-se se passou diretamente destes animais para as pessoas ou se houve algum outro intermediário que tenha mudado a estirpe do vírus e permitido a infeção em humanos.
“Em morcegos do sudeste asiático há uma grande variedade de coronavírus que, nas circunstâncias correctas, podem infectar os humanos”, recorda ao Polígrafo o virologista Tiago Marques. Além disso, sublinha, o coronavirus e o VIH “infectam células totalmente diferentes e não é plausível que com as ferramentas da genética actual seja possível” levar a cabo a manipulação defendida nas informações colocadas a circular nas redes sociais.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: