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Capacete de 490 a.C. foi encontrado com crânio de soldado preservado lá dentro?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A história é longa e altamente enfabulada: um capacete coríntio terá sido encontrado com o crânio do soldado ainda lá dentro. A morte deverá ter acontecido durante a Batalha da Maratona, 490 anos antes de Cristo (a.C.), durante a primeira invasão persa à Grécia. Confirma-se?

“Há 2.500 anos, 10 mil soldados gregos reuniram-se nas planícies de Maratona para combater o exército persa invasor. Os soldados gregos eram compostos principalmente por cidadãos de Atenas, além de alguns reforços de Plateias. O exército persa tinha 25.000 soldados de infantaria e mil de cavalaria”, começa por explicar “post” de 16 de julho, divulgado no Facebook.

“Os gregos, em menor número, ficaram parados durante dias, à espera que chegassem reforços de Esparta. Mas, infelizmente, eles não podiam esperar mais. Os persas, à espera de uma vitória fácil, esperaram pacientemente enquanto os gregos começavam a avançar. Quando se aproximaram, o sinal foi dado aos arqueiros persas para dispararem as suas flechas. Os gregos ganharam velocidade nos 400 metros finais, sem se deixar abater pelo granizo de flechas que enchiam o céu. Em questão de minutos, os dois exércitos estavam em cima um do outro“, continua a publicação.

A história continua a ser contada e, a esta altura dos acontecimentos, os gregos já “dominaram os soldados persas nos flancos, o que lhes permitiu cercar rapidamente o centro do exército persa. O pânico seguiu-se e os persas começaram a fugir de volta para os seus navios. Alguns deles, não familiarizados com o terreno, recuaram em direção aos pântanos, onde um número incontável deles se afogou. Segundo o historiador grego Heródoto, 6.400 corpos persas estavam espalhados pelo campo de batalha. Os atenienses perderam 192 homens e os plateias perderam 11″.⁣

Depois da “realidade”, a lenda: “Este notável capacete de estilo coríntio da Batalha de Maratona foi supostamente encontrado em 1834 com um crânio humano ainda lá dentro. Agora faz parte das coleções do Museu Real de Ontário, mas originalmente foi descoberto por George Nugent-Grenville, que foi o Alto Comissário Britânico das Ilhas Jónicas entre 1832-35.”

De acordo com o portal do Museu Real de Ontário (ROM, na sigla em inglês), em Toronto, no Canadá, “o capacete coríntio é um dos tipos de capacete mais imediatamente reconhecíveis, romanticamente associado aos grandes heróis da Grécia Antiga, mesmo pelos próprios gregos antigos que rapidamente mudaram para tipos de capacete com melhor visibilidade, mas ainda retratavam os seus heróis nestes capacetes”.

O capacete que surge acima na imagem (ROM no.926.19.3) foi comprado pelo museu em 1926. À data, foi garantido que um crânio (ROM No. 926.19.5) se encontrava dentro dele e que foi nesta condição que este foi escavado por George Nugent-Grenville, na Planície de Maratona, em 1834.

Quanto ao crânio, porém, é difícil ter a certeza sobre a sua associação ao capacete: “Como a Maratona foi uma vitória para os gregos, estes estavam em posição de não deixar nenhuma parte do corpo ou qualquer equipamento útil em campo e os únicos danos presentes no capacete parecem dever-se à idade. Portanto, é concebível que seja tão improvável que um capacete se tenha perdido tanto quanto a cabeça que o poder ter utilizado.”

“Não tenho nenhum problema com a ideia geral de que um capacete possa ser encontrado com uma cabeça dentro, já que essas coisas são encontradas em campos de batalha, mas normalmente não são dos vencedores. A suposta descoberta do objeto em 1834 parece sólida e Nugent pode ter sido romântico, mas nada na sua biografia indica que este possa ter sido um autor de contos”, brinca o autor do artigo.

No fundo, “não sabemos o quão confiável pode ter sido a transmissão de informações ao longo desses 100 anos, especialmente uma vez que a casa e o conteúdo encontrado por Nugent não foram herdados pelos seus próprios filhos. Não podemos ter a certeza de que o crânio pertencia ao dono do capacete, mas também não podemos negá-lo. Um estudo de ADN e radiocarbono poderia dizer-nos que este era um grego da época, mas isso não está nos nossos planos”, explica Robert Mason, especialista em arqueologia, num artigo de 2014 para o museu.

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