A tecnologia da época limitou o sonho de Alfred Hitchcock, mas o cineasta não se deu por vencido. Apesar de parecer um único plano sequência, na realidade são 10 segmentos no total que variam entre os quatro e os 10 minutos de duração cada um (9:34, 7:51, 7:18, 7:09, 9:59, 8:35, 7:50, 10:06, 4:37 e 5:40).
Na altura, década de 1940, os rolos de filmes existentes não permitiam gravar um filme inteiro, mas Hitchcock não desistiu da ideia e encontrou uma solução: sempre que era necessário “disfarçar” uma passagem entre takes, a câmara focava o casaco de um personagem ou fundos escuros. No Youtube, há vários vídeos que mostram esses cortes.
Além do disfarce dos cortes necessários para manter a ilusão de um único plano sequência, o estúdio foi construído de forma a tudo ser mais agilizado. Havia carris pelo cenário para movimentar as câmaras, cabos por todo o lado, paredes móveis, o elenco e toda a equipa técnica tinham de estar sincronizados quanto aos movimentos para que toda esta “dança” funcionasse na perfeição.
“A técnica da câmara móvel tinha sido ensaiada até aos mínimo pormenores. Trabalhávamos com a Dolly e, no chão, havia pequenos sinais, números traçados muito discretamente; todo o trabalho do operador com a Dolly consistia em chegar a tal número em tal frase do diálogo, depois a outro número e assim sucessivamente. Quando passávamos de uma divisão a outra, a parede da sala de estar ou da entrada desaparecia sobre carris silenciosos; os móveis também estavam montados em pequenas rodas e eram empurrados quando necessário. Era realmente um espectáculo assistir àquelas filmagens!”, descreveu Alfred Hitchcock numa longa entrevista ao cineasta François Truffaut.
Os pormenores técnicos da gravação do filme e o facto de cada take ter entre quatro a 10 minutos, obrigava a uma grande concentração de todos para que não acontecessem erros. Mas há histórias de bastidores como uma câmara que passou por cima e partiu o pé de um operador mas, para que a filmagem continuasse, ele foi arrastado para fora do cenário enquanto os atores continuaram o diálogo; ou quando uma atriz pousou o copo mas falhou a mesa e um membro da equipa técnica foi rápido o suficiente para o apanhar antes que caísse no chão.
Nas “Folhas da Cinemateca”, João Bénard da Costa conta que “as dificuldades técnicas foram tais que a rodagem foi um calvário para os atores. E James Stewart teria perguntado a Hitch (já que tudo se filmava em continuidade) porque é que ele, em vez de fazer um filme, não deixava o público entrar no estúdio e assistir às filmagens, pois já veria tudo”.
“A Corda” foi filmado entre 12 de janeiro e 21 de fevereiro de 1948: 10 dias de ensaios com as câmaras, 18 dias de rodagem e nove dias para repetições. Por dia, Hitchcock conseguia filmar mais ou menos um dos segmentos, mas os últimos cinco tiveram de ser deitados para o lixo e filmados de novo porque o realizador não estava satisfeito com a cor do pôr do sol.
“Havia no filme um contínuo escoamento de luz com as mudanças de claridade entre as 19h30 e as 21h15, pois a ação do filme começava à luz do dia e terminava ao cair da noite. (…) No fim da rodagem, dei-me conta de que a partir da quarta bobina, ou seja, ao pôr do sol, predominava na imagem um tom laranja realmente excessivo. E só por isso tive de rodar de novo as cinco últimas bobinas”, contou Hitchcock a Truffaut.
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Avaliação do Polígrafo: