“Colegas: querendo tocar à borla, habilitando-se, inclusive, a ficar com a viatura com aquecimento central eterno, inscrevam-se já”, lê-se numa publicação do Facebook sobre as nuances das candidaturas para a programação artística do Festival Andanças 2022 que decorrem de 1 a 17 de abril.

No mesmo post, a autora acrescenta que, ainda assim, os passes gerais para o festival têm um custo entre os 80€ e os 100€. “Se não é o eco-capitalismo fofinho”, remata com ironia.

A informação partilhada é verdadeira?

Sim. Contactada pelo Polígrafo, a associação PédeXumbo, responsável pela organização deste festival internacional de música e dança tradicional, confirma que “os artistas que atuam no Andanças não recebem remuneração monetária. Os artistas que atuam no Andanças candidatam-se voluntariamente a fazer parte da programação do festival aceitando a filosofia do mesmo e as condições de participação oferecidas pela PédeXumbo, como entidade organizadora”.

No mesmo plano, a PédeXumbo explica que as candidaturas são feitas pelos artistas “através de uma plataforma online que indica de forma clara os seus direitos e deveres enquanto artistas participantes”. Por isso, sublinha, “os artistas aceitam contribuir para um dos principais pilares do festival que é o voluntariado, tal como centenas de pessoas que se inscrevem como voluntários para outras áreas/equipas, tais como médicos, enfermeiros, produtores, ambientalistas, engenheiros, etc.”

A organização defende ter o voluntariado como base do festival por querer manter-se “independente de poderes políticos, comerciais, e financeiros”, apresentando-se como “um lugar onde todos se sintam motivados a contribuir para um bem comum, não remunerados pelo seu trabalho, mas compensados de forma justa e criativa, sejam indivíduos, empresas, ou instituições públicas”. Além disso, acrescenta, “não são apenas os artistas que não recebem remuneração monetária, estamos a falar de uma equipa extensa de pessoas que acreditam em outros modelos de trabalho em conjunto e num festival autogestionado”.

Questionada sobre as condições apresentadas aos artistas que participam no Andanças, a PédeXumbo deixa a seguinte lista com 12 pontos: “acesso livre ao festival, com pulseira, para os elementos do projeto; um convite/pulseira por elemento do projeto, refeições na cantina do festival (consoante o número de atividades realizadas); senhas para bebidas/tokens no valor de €3/dia; pagamento das despesas de deslocação (em transporte público ou veículo particular ligeiro), em concordância com as variáveis distância a percorrer (Km) e número de elementos do projeto; alojamento; seguro de acidentes pessoais; seguro de danos materiais para os instrumentos confinados no espaço do festival (durante todo o evento); guarda de instrumentos (durante todo o festival); possibilidade de venda de edições e merchandising no recinto, em regime de consignação, revertendo inteiramente a favor do projeto; integração de um tema no CD Andanças e divulgação no website e redes sociais, que contam com quase 50 mil seguidores, destacando individualmente cada projeto artístico selecionado”.

Quanto à alegação de que “os passes para o festival se mantêm entre os 80 e os 100 euros”, a informação partilhada também é verdadeira, dado que, segundo os dados da bilheteira do festival, os bilhetes gerais custam 80 euros de 14 a 21 de abril, 90 euros de 22 a 28 de abril, e 100 euros de 29 de abril a 14 de agosto.

A PédeXumbo adianta ainda que a intenção da associação "não é fazer lucro com o festival, sendo uma associação sem fins lucrativos". No entanto, assegura, "quando o festival gera lucros - o que nem sempre acontece como pode ser visto nos nossos relatórios de contas que são públicos -, estes são aplicados nas melhorias das condições do festival, na contratação de serviços locais em detrimento da escolha de grandes empresas, nas demais atividades que fazemos ao longo do ano e que são muitas vezes de acesso gratuito para o nosso público ou a preços baixos, atividades essas que procuram ainda abranger novos públicos".

Em suma, é verdade que, apesar de não pagar aos artistas pelas suas atuações no Andanças, a organização do festival cobra entre 80 e 100 euros ao público pelo acesso ao passe geral do evento.

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Avaliação do Polígrafo:

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