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Fernando Medina: “Somos o terceiro país com a dívida mais elevada dentro da Zona Euro”

Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
"Se há algo que é hoje um fator de confiança para enfrentarmos o ano de 2023 é precisamente a redução da dívida. Tínhamos, e ainda temos, um calcanhar de Aquiles, que é o facto de sermos o terceiro país com a dívida mais elevada dentro da Zona Euro", afirmou o ministro das Finanças, em entrevista ao jornal "Expresso". Verdadeiro ou falso?

Na sequência da apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), na qual estabelece o objetivo de redução da dívida pública até 110,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no final do próximo ano (a confirmar-se, será uma das maiores reduções desde 2020 ao nível mundial, segundo as contas do Fundo Monetário Internacional), o ministro das Finanças, Fernando Medina, concedeu esta semana uma entrevista ao jornal “Expresso” (edição de 14 de outubro) com enfoque precisamente na redução do défice e da dívida, entre outros indicadores macroeconómicos.

Questionado sobre se “era mesmo necessário descer tão rápido” a dívida, tendo em conta “os últimos números do FMI que indicam que “Portugal é um dos países do mundo onde a dívida mais diminui entre 2020 e 2023”, Medina respondeu da seguinte forma:

“É, e ainda bem que o fizemos. Se há algo que é hoje um fator de confiança para enfrentarmos o ano de 2023 é precisamente a redução da dívida. Tínhamos, e ainda temos, um calcanhar de Aquiles, que é o facto de sermos o terceiro país com a dívida mais elevada dentro da Zona Euro. A conquista destes dois últimos anos, em especial 2022, é que deixamos uma posição isolada de sermos o terceiro país com a dívida mais elevada da Zona Euro e passamos a integrar um grupo de países que já tem um nível significativamente abaixo – Espanha, França e Bélgica. Não fomos nos cantos de sereia daqueles que diziam que a dívida não conta e que devíamos expandir o défice.”

Confirma-se que Portugal é o “terceiro país com a dívida mais elevada dentro da Zona Euro”?

Sim. E não apenas na Zona Euro, mas em toda a União Europeia. Acima de Portugal estão apenas a Grécia e a Itália, quer em 2020, quer em 2021, de acordo com os últimos dados compilados pelo Eurostat, serviço de estatística da União Europeia.

No topo da tabela destaca-se a Grécia, com uma dívida pública de 193,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 (ainda assim ligeiramente menor em comparação com 2020, quando atingiu 206,3% do PIB).

Segue-se a Itália, com uma dívida pública de 150,8% do PIB (em 2020 ascendia a 155,3% do PIB).

Quanto a Portugal, está na terceira posição, tal como indicou Medina, com uma dívida pública de 127,4% do PIB, já em trajetória descendente em relação a 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, quando atingiu um pico de 135,2% do PIB).

É mesmo "a maior de sempre", destaca-se em recente publicação no Facebook, recordando que "com o Pedro Passos Coelho queixavam-se todos!" O Polígrafo confere.

No que concerne ao grupo de países – Espanha, França e Bélgica – que se seguem na tabela com “um nível significativamente abaixo”, tal como referiu Medina, em 2021 registaram dívidas públicas de 118,4%, 112,9% e 108,2%, respetivamente.

Entretanto, a dívida pública de Portugal baixou para 123,4% do PIB no segundo trimestre de 2022 e o objetivo do Governo de António Costa será reduzir ainda mais para 110,8% em 2023. Mas ainda não há dados consistentes dos demais países da União Europeia que possibilitem conferir se Portugal vai mesmo juntar-se ao grupo de Espanha, França e Bélgica no final de 2022, ao nível da dívida pública, objetivo que Medina já apresentou quase como facto consumado na entrevista em causa.

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Avaliação do Polígrafo:

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