O contexto era uma audição do ministro das Finanças na Comissão de Orçamento e Finanças, através de requerimento potestativo do partido Chega, no dia 11 de abril. Os deputados do Chega pretendiam obter explicações sobre o "conjunto de medidas excepcionais de apoio às famílias para mitigação dos efeitos da inflação", mas uma notícia que surgiu na véspera da audição - revelando que Laura Cravo, mulher de João Galamba (ministro das Infraestruturas), desde há cerca de um ano que "coordena" um departamento no Ministério das Finanças "mas a nomeação não é pública" - levou a um realinhamento de prioridades.

Não por acaso, logo na primeira questão, o deputado Rui Afonso confrontou Fernando Medina com o caso de Laura Cravo.

O ministro das Finanças começou por criticar o deputado do Chega por se referir à "mulher de João Galamba" e não "ao nome da pessoa em causa", lamentando também o que considerou ser "a tentativa de fazer combate político com pessoas que são familiares de titulares de cargos políticos, o que mostra acima de tudo (...) um nível deplorável".

  • "Chama-se 'swing'". Mulher de Medina trabalha para Galamba e mulher de Galamba trabalha para Medina?

    A revelação de que Laura Abreu Cavaco, casada com o atual ministro das Infraestruturas, está a "coordenar" o Departamento de Serviços Financeiros do Ministério das Finanças, liderado por Fernando Medina, motiva uma série de publicações nas redes sociais que apontam (com sarcasmo) para uma prática de "swing": é que Stéphanie Sá Silva, casada com o ministro das Finanças, supostamente trabalha sob a tutela de João Galamba. É verdade?

Depois de assegurar que não iria "baixar a esse nível", Medina avançou para uma explicação.

"Gostava de prestar o seguinte esclarecimento. É a primeira vez, que eu me recordo, que um político é criticado, invectivado na praça pública por adversários políticos, não por nomear alguém, mas sim por não nomear alguém", sublinhou desde logo.

"Isto é, a doutora Laura Cravo não foi nomeada pelo Governo, não foi pré-nomeada pelo Governo, não tem nenhuma nomeação à espera de nenhum cargo que dependa de nenhum membro do Governo", garantiu.

De acordo com Medina, "a história é muito simples de contar. A doutora Laura Cravo é quadro de uma instituição da Administração Pública. Como centenas, ou milhares de quadros da Administração Pública portuguesa, encontra-se ao abrigo do regime de mobilidade a desempenhar funções noutro departamento da Administração Pública que não aquele de que é quadro originário. É quadro da CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários], encontra-se a desempenhar funções no Departamento de Gestão e Planeamento de Relações Internacionais do Ministério das Finanças".

Confirma-se que "é a primeira vez que um político é criticado não por nomear alguém, mas sim por não nomear alguém"?

Entre outros exemplos, o caso de Diogo Lacerda Machado invalida a alegação do ministro das Finanças. No final de 2015, quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro, o advogado Lacerda Machado começou a participar ativamente (sem qualquer tipo de nomeação ou contrato) em processos como as negociações da reversão da privatização da TAP e da solução para os lesados do BES, entre outros.

Tratava-se de uma "ajuda" em regime pro bono, de alguém que era o seu "melhor amigo", explicou na altura Costa. E, sim, foi profusamente criticado pelos demais partidos políticos, devido ao facto de não ter nomeado Lacerda Machado para desempenhar tais funções - em representação do Governo, sem contrato, nem remuneração.

Aliás, acossado pela controvérsia gerada em torno dessa colaboração informal, o Governo acabou por celebrar um contrato de consultadoria com Lacerda Machado (estabelecendo uma remuneração mensal de 2 mil euros brutos), em abril de 2016. Cerca de um ano mais tarde, Lacerda Machado foi nomeado para o cargo de vogal do Conselho de Administração da TAP.

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