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Estudo indica que os coronavírus persistem até nove dias numa superfície inanimada?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Circula nas redes sociais a informação de que os coronavírus se mantêm infeciosos durante um período até nove dias quando estão em superfícies inanimadas. Na publicação original mostra-se uma imagem do que aparenta ser um estudo científico. Verdadeiro ou falso?

Entre as partilhas em massa de notícias sobre o Covid-19 surgem também nas redes sociais conteúdos com informações não verificadas sobre a pandemia em curso. Recentemente começou a ser partilhada uma imagem que mostra um suposto estudo publicado no Journal of Hospital Infection com o seguinte título, em tradução livre: “Persistência dos coronavírus em superfícies inanimadas e a sua inativação com agentes biocidas”.

“Atualmente, a emergência de um novo coronavírus humano, SARS-CoV-2, tem-se tornado uma preocupação para a saúde global causando infeções respiratórias severas nos humanos”, destaca-se no sumário que aparece na imagem. “A análise de 22 estudos revela que os coronavírus humanos tais como o coronavírus Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), o coronavírus Síndrome Respiratório do Médio Oriente (MERS) ou o coronavírus endémico humano (HCoV) podem persistir numa superfície inanimada como metal, vidro ou plástico até 9 dias, mas pode ser eficientemente inativado pela desinfeção da superfície com álcool a 70º, 0,5% peróxido de hidrogénio ou 0,1% de hipoclorito de sódio em um minuto”.

O estudo existe mesmo, é verdadeiro. Este artigo foi publicado no Journal of Hospital Infection e disponibilizado online a 6 de fevereiro de 2020. Uma equipa de investigadores liderada por G. Kampf fez um levantamento das publicações científicas que investigaram a persistência dos diferentes coronavírus em superfícies inanimadas, de forma a sumariar todos os dados disponíveis sobre esta família de vírus.

No entanto, apesar de a investigação ter sido feita no seguimento da epidemia de Covid-19 – cujo vírus responsável foi apelidado de SARS-CoV-2 -, este artigo foca-se na literatura científica publicada referente aos coronavírus conhecidos previamente, inclusive coronavírus veterinários. “O objetivo da revisão é portanto sumariar todos os dados sobre a persistência de todos os coronavírus incluindo o emergente SARS-CoV e o MERS-CoV assim como coronavírus veterinários (…) em diferentes tipos de superfícies inanimadas e sobre a eficácia dos agentes biocidas comumente utilizados na desinfeção das superfícies contra o coronavírus”, explicam os autores do artigo.

As conclusões do estudo indicam que os coronavírus humanos têm a capacidade de se manter infeciosos durante um período até 9 dias, quando em gotículas ou secreções depositadas em superfícies inanimadas. Por outro lado, nos coronavírus veterinários o período nas mesmas condições pode ultrapassar os 28 dias. A temperatura a que estava a superfície foi um dos parâmetros analisados no estudo.

Os dados recolhidos incluem testes em ferro, alumínio, metal, madeira, papel, vidro, plástico, mas também borrachas de silicone, luvas de cirúrgicas de latex e PVC, entre outros materiais. Já no que toca aos desinfetantes, o álcool (numa concentração entre 62% e 71%) foi aquele que melhor reduziu a quantidade vírus com apenas um minuto de exposição, seguido da substância hipoclorito de sódio (ou seja, a lixívia, com uma concentração entre 0,1 e 0,5%) e do glutardialdeído (a 2%).

Ainda que o estudo seja verdadeiro, é importante sublinhar que os dados analisados dizem respeito aos tipos de coronavírus já conhecidos e não ao SARS-CoV-2, responsável pela pandemia do Covid-19. Esta análise tinha como objetivo reunir a maior informação possível sobre os coronavírus já identificados, de forma a auxiliar o combate ao novo vírus que surgiu em Wuhan, China.

Concluindo, atenção que estes são estudos para outros coronavírus e é preciso ter em conta temperaturas e tipos de superfícies para os vírus sobreviverem, ressalva a Direção-Geral da Saúde ao Polígrafo.

***

Nota editorial 1: este texto foi produzido pela redação do Polígrafo e cientificamente validado pela Direção-Geral da Saúde, no âmbito de uma parceria estabelecida entre as duas entidades a propósito de um tema que se reveste de um inquestionável interesse público.

Nota editorial 2: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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