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Estudo demonstra que o cromossoma Y está a desaparecer e isso poderá levar ao “fim dos nascimentos masculinos no futuro”?

Geração V
O que está em causa?
Na rede social X está a circular a alegação de que um estudo revelou que o cromossoma Y nos homens está a desaparecer e que, consequentemente, poderá levar à diminuição (ou mesmo ao fim) do número de nascimentos do sexo masculino no futuro. Verdade ou mentira?

“O mundo está a curar-se”, realça-se na descrição de um tweet de 28 de agosto de 2024, acompanhado de uma imagem que mostra cromossomas humanos observados a partir de um microscópio.

Sobre a imagem destaca-se o seguinte: “Estudo revela que o cromossoma Y dos homens está a desaparecer, o que poderá levar ao fim dos nascimentos masculinos no futuro.” 

Como explica o National Human Genome Research Institute, “o núcleo de uma célula humana, cada molécula de ADN está organizada numa estrutura longa, semelhante a um fio, chamada cromossoma.

A maioria das células humanas contém 23 pares de cromossomas compostos por metade do material genético de cada um dos progenitores. O 23.º par é constituído pelos cromossomas X e Y, frequentemente designados por cromossomas sexuais. Desta forma, as pessoas a quem é atribuído o sexo masculino nascem com um cromossoma X e um Y, enquanto as pessoas a quem é atribuído o sexo feminino nascem com dois cromossomas X. 

Mas será que o desaparecimento do cromossoma Y é sinónimo de “fim dos nascimentos masculinos”?

De acordo com uma notícia publicada no “The Economic Times“, a diminuição do cromossoma Y não significa o fim de nascimentos do sexo masculino. Segundo Jennifer A. Marshall Graves, uma renomada geneticista australiana, o cromossoma Y está de facto em declínio e, se esta tendência se mantiver, poderá mesmo desaparecer dentro de 11 milhões de anos. 

Mas, como explica o estudo publicado nos “Proceedings of the National Academy of Sciences” – que é verdadeiro e datado de novembro de 2022 -, os humanos podem adaptar-se ao potencial desaparecimento do cromossoma Y, não significando com isso que deixem de existir nascimentos do sexo masculino.

O estudo liderado por Asato Kuroiwa, na Universidade de Hokkaido, descobriu que o rato espinhoso de Amami, uma espécie nativa do Japão, desenvolveu um novo gene determinante masculino depois de perder completamente o cromossoma Y. Sugere-se que esta é uma possível evolução genética em que, mesmo sem cromossoma Y, não deixam de existir nascimentos do sexo masculino, mas há uma modificação na forma genética com que é determinado o sexo.

Desta forma, a capacidade do rato espinhoso sobreviver e se reproduzir sem este cromossoma sugere que os seres humanos possam, potencialmente, desenvolver um novo gene determinante do sexo. Esta descoberta é significativa porque demonstra que os mamíferos podem desenvolver mecanismos alternativos de determinação de sexo.

Mais, segundo um artigo publicado em agosto de 2023, no site da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, a teoria de que o cromossoma Y poderá desaparecer tem origem na comparação que alguns investigadores levaram a cabo entre humanos e outros mamíferos. “Foi teorizado que durante um período de tempo suficientemente longo, o cromossoma Y poderia desaparecer completamente”, aponta o artigo salvaguardando, no entanto, que “esta teoria é altamente controversa na comunidade científica”.

Ainda assim, “mesmo que o cromossoma Y desaparecesse, isso não significaria necessariamente o fim da diferenciação sexual”, isto porque, “algumas espécies de roedores não possuem um cromossoma Y, mas ainda têm características sexuais distintas, como ovários e testículos”.

Assim, conclui-se que a alegação difundida no tweet viral é falsa. O estudo mencionado comprova o potencial desaparecimento do cromossoma Y, mas este indica igualmente que as espécies podem adaptar-se e evoluir, criando um novo gene determinante do sexo masculino. Assim, o desaparecimento do cromossoma Y não implica o fim “dos nascimentos masculinos no futuro”. 

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Geração V

Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “Geração V – em nome da Verdade”, uma rede nacional de jovens fact-checkers. O projeto foi concretizado em parceria com a Fundação Porticus, que o financia. Os dados, informações ou pontos de vista expressos neste âmbito, são da responsabilidade dos autores, pessoas entrevistadas, editores e do próprio Polígrafo enquanto coordenador do projeto.

*Texto editado por Marta Ferreira.

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Avaliação do Polígrafo:

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