- O que está em causa?A desinformação em torno da vacinação contra a Covid-19 é recorrente nas redes sociais. Num "post" recente no Facebook alega-se que foi publicado um estudo na revista "The Lancet" que demonstra que as vacinas "mataram um número considerável de pessoas" e que terá sido "censurado em menos de 24 horas". Verdade ou mentira?

"As vacinas contra a Covid-19 mataram um número considerável de pessoas e o governo encobriu o facto. Um estudo, publicado como pré-impressão, mostra que 74% das mortes após a vacinação são devidas à vacina", começa por destacar uma publicação feita no dia 11 de julho no Facebook, mas que circula em diversas redes sociais.
"Este é o estudo mais prejudicial da pandemia, e foi publicado na revista 'The Lancet', tendo sido censurado em menos de 24 horas. A revista não deu as razões pelas quais censurou o estudo, apenas dizendo que existiam erros, sem dizer quais, não dando, sequer, direito de resposta aos autores, numa atitude que não é normal porque, em princípio, os erros demoram meses a serem descobertos e dá-se a oportunidade de publicação de um 'erratum': uma lista de erros corrigidos, anexada a um livro ou publicada num número posterior de uma revista, como o 'The Lancet' e outras, têm muitas", afirma o mesmo post.

A publicação é acompanhada por um recorte de um artigo assinado por Steve Kirsch, um empresário que se manifesta contra a vacinação Covid depois de ter ouvido "várias histórias de amigos que relatavam mortes de familiares ou que tinham ficado permanentemente incapacitados" após terem recebido a vacina.
"O mais prejudicial estudo da pandemia esteve publicado menos de 24 horas antes de ser censurado", lê-se no artigo. Este foi publicado no site de Kirsch, onde o próprio indica que o artigo não foi revisto por pares.
Tem fundamento o que se denuncia na publicação?
Não. O artigo de que o post e o empresário falam intitula-se "Uma revisão sistemática dos resultados da autópsia em mortes após a vacinação contra a Covid-19” e não foi publicado na revista científica "The Lancet" como se indica no post. Foi publicado no dia 5 de julho na plataforma Social Science Research Network (SSRN) que colabora com a "The Lancet" e reúne pré-impressões para que sejam revistas por pares.
Ao consultar o artigo na origem, identifica-se o motivo pelo qual foi rejeitado: "Esta pré-impressão foi removida pela Preprints com a revista 'The Lancet' porque as conclusões do estudo não são suportadas pela metodologia. A Preprints com a revista 'The Lancet' reserva-se no direito de remover um artigo que tenha sido publicado se determinarmos que este violou os nossos critérios de triagem. As pré-impressões disponíveis aqui não são publicações do 'Lancet' ou estão necessariamente sob revisão. Estes são artigos de pesquisa em estágio inicial que não foram revistos por pares".
À plataforma "AFP Checamos", o Grupo Lancet confirmou a remoção do artigo alegando como justificação uma "metodologia que não permitia fundamentar as conclusões".
A parceria entre a "The Lancet" e a SSRN iniciou-se em 2018, com o objetivo de "oferecer aos autores uma área dedicada a pré-impressões". No entanto, tal como frisa a revista científica, estes artigos "não são publicações da 'Lancet' ou estão sob revisão".
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