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Estudo da Universidade de Stanford “demonstra” que máscaras são “inúteis” para proteger da Covid-19?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Um suposto "estudo de Stanford" tem sido difundido nas redes sociais como prova de que "as máscaras são ineficazes contra a Covid-19 e podem causar deterioração da saúde e morte prematura".

Apelidado de “estudo de Stanford”, um artigo publicado numa revista científica está a ser partilhado como contendo provas de que as “as máscaras são ineficazes contra a Covid-19 e podem causar deterioração da saúde e morte prematura“. Existem vários textos, em várias línguas – incluindo a portuguesa –, que expõem as premissas do suposto estudo.

Há algum fundamento científico em tais alegações?

O estudo intitulado como “Máscaras na era Covid-19: Uma hipótese de saúde” foi publicado na “Medical Hypotheses”, a 12 de maio de 2021, mas a revista científica retraiu o artigo devido à existência de dados errados e citações incorretas. O conselho editorial da revista considera que a hipótese colocada pelo autor Baruch Vainshelboim é “enganadora“.

Na nota editorial que surge associada ao artigo sublinha-se que “o manuscrito cita erroneamente e cita seletivamente artigos publicados“. É ainda identificada uma tabela, da autoria do investigador, que contém dados que “não foram verificados” e que dão origem a “várias declarações especulativas“.

Mais, a afiliação indicada pelo investigador Vainshelboim não é correta. O autor afirma ser “atualmente afiliado à Universidade de Standford e ao VA Palo Alto Health Care System“. No entanto, “as instituições confirmaram que o Dr. Vainshelboim terminou a sua ligação com ambas em 2016“, destaca-se na nota editorial.

Aliás, a Faculdade de Medicina de Stanford (Califórnia, EUA) recorreu às redes sociais para esclarecer que o artigo científico em causa “não é um estudo de Standford“. No Twitter, a instituição de ensino superior norte-americana sublinha que “o autor, Baruch Vainshelboim, não tinha afiliação com o VA Palo Alto Health Care System ou com a Universidade de Stanford na altura da publicação [do artigo] e não tem qualquer afiliação desde 2016, quando terminou o período de um ano como investigador visitante em assuntos não relacionados com o artigo“.

No mesmo comunicado, a Universidade de Stanford reitera que “apoia fortemente a utilização de máscaras faciais para controlar a propagação da Covid-19”. Também a “Medical Hypotheses” considera que “existem evidências científicas vastas e revistas que mostram claramente que as máscaras aprovadas e com certificação correta, utilizadas segundo as diretrizes, constitutem uma prevenção eficaz na transmissão da Covid-19“.

O estudo ainda está disponível na PubMed – uma plataforma da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA e que está associada aos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA -, mas apresenta o mesmo aviso: “Este artigo foi retraído“.

De acordo com um texto de um weblog que está a ser partilhado nas redes sociais, "26 países relatam um aumento maciço de 'casos', doenças e óbitos por Covid-19, como resultado da vacinação em massa". Desde as ilhas caribenhas de Antígua e Barbuda até ao Brasil, passando pelo Qatar, Paraguai, Índia, EUA, Mongólia, entre outros. Verificação de factos.

A utilização de máscaras faciais no âmbito da pandemia de Covid-19 é recomendada pelas principais entidades de saúde nacionais e internacionais. Desde logo pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que considera que “as máscaras são uma forma de suprimir a transmissão [da Covid-19] e salvar vidas” e que devem ser utilizadas “em áreas onde o vírus está em circulação”, dando como exemplo situações com grandes aglomerados de pessoas, onde não é possível manter pelo menos um metro de distância, ou espaços pouco ventilados.

Também o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) indica que “as máscaras faciais devem ser consideradas como uma intervenção não-farmacológica em combinação com outras medidas, como parte de um esforço para controlar a pandemia de Covid-19″.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS), na mais recente orientação publicada sobre esta matéria, recomenda “a utilização alargada de máscaras como medida complementar para controlar a transmissão” do novo coronavírus. No documento informa-se que “a infeção por SARS-CoV-2 resulta, predominantemente, de exposição a gotículas contendo partículas virais, exaladas com a respiração, verbalização, tosse ou espirro, seja de forma direta ou indireta”, sendo a máscara uma forma de evitar a propagação das referidas gotículas.

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Avaliação do Polígrafo:

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