“Rússia movimenta armas nucleares após declarações de [Emmanuel] Macron”, lê-se numa publicação partilhada recentemente na rede social Facebook, dando conta de que o presidente russo, Vladimir Putin, estaria a preparar uma retaliação contra o Ocidente na sequência de afirmações proferidas pelo homólogo francês.
A acompanhar a alegação, surge um vídeo que apresenta um comboio militar russo, que estaria a transportar esse material de capacidade nuclear. Mas haverá razões para dizer que este vídeo exibe a mobilização de armas nucleares por parte da Rússia, em resposta às alegadas provocações provenientes do Ocidente?
De facto, notícias divulgadas pela imprensa internacional este mês dão conta de que as forças russas, segundo um comunicado do seu Ministério da Defesa, terão já dado início a exercícios que envolvem armas nucleares táticas na fronteira com a Ucrânia e, inclusive, em regiões do país anexadas pela Rússia. Já antes tinha sido noticiado, em abril, por parte de órgãos de comunicação sociais russos, que o Kremlin teria já instalado uma brigada de mísseis Iskander-M, de capacidade nuclear, na República da Carélia, região russa localizada na fronteira com a Finlândia.
Porém, não é isso que nos mostra este vídeo. Através de pesquisa reversa, foi possível concluir que o mesmo foi partilhado pelo Ministério da Defesa da Rússia no Telegram, em fevereiro deste ano, segundo constatou, primeiramente, a AFP.
Na legenda que acompanha a partilha deste vídeo na referida rede social, oferece-se mais algum contexto sobre o que está verdadeiramente em causa: “Unidades de lançamento do sistema de mísseis terrestres móveis Yars chegaram a Alabino, perto de Moscovo, para se prepararem para a parada militar na Praça Vermelha.”
Em causa estão as celebrações do Dia da Vitória, uma data que se comemora anualmente a 9 de maio, com o objetivo de imortalizar a vitória da União Soviética sobre a Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial. Uma tese que é confirmada por notícias partilhadas em outros meios de comunicação internacionais (aqui e aqui).
Além disso, facto é que imagens semelhantes tinham já sido partilhadas, pelo próprio Ministério da Defesa russo, no YouTube, a 26 de fevereiro de 2022 – apenas dois dias após a invasão sobre a Ucrânia. “No âmbito dos preparativos para a parada militar na Praça Vermelha, uma coluna mecanizada do cálculo da parada de lançadores autónomos do sistema de mísseis móveis Yars marchou do ponto de implantação permanente na cidade de Teikovo, na região de Ivanovo, para Alabino, perto de Moscovo”, esclarece, de um modo semelhante, a legenda que acompanha as imagens.
Tudo isto sustenta a conclusão de que a movimentação do equipamento militar apresentada no vídeo analisado ocorreu no contexto das preparações para uma parada militar, pelo que não existe fundamento para dizer que estas imagens exibem uma mobilização de armas nucleares por parte da Rússia, com vista a levar a cabo um ataque dessa natureza.
_______________________________
Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.
_______________________________
Avaliação do Polígrafo: