Um tweet publicado no último domingo, 25 de agosto, alerta os cidadãos para uma situação ocorrida em Lisboa e até aponta que “a moda está a pegar“.
“Um conselho que damos… Muita atenção a andar nas ruas de Lisboa e não só… Começamos a ter episódios destes todas as semanas… Muito em breve vamos ter uma desgraça”, lê-se na publicação, ilustrada por um breve clip de vídeo onde se vê um indivíduo a ser manietado e detido por dois agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP).
De acordo com o tweet, terá sido um “jovem muçulmano ilegal com catana na mão” que estaria a “ameaçar pessoas na rua”. Acrescenta-se que os agentes da PSP lhe terão pedido “para largar a arma branca”, mas ele resistiu, levando a que corressem na sua direção e o derrubassem.
O problema é que a história está a ser mal contada. Sim, o indivíduo estaria a ameaçar pessoas na rua, mas não há qualquer indicação de que seria um “jovem muçulmano ilegal” e as ditas armas que empunhava não eram catanas, mas sim barras de ferro.
O vídeo remonta a agosto de 2022, há dois anos, e levou a PSP a instaurar um inquérito para apurar responsabilidades. Também a Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) abriu um processo para verificar se não teria havido excesso de força.
O que aconteceu? De acordo com as notícias divulgadas à época – baseadas num comunicado da PSP – a ocorrência policial teve lugar no dia 13 de agosto, na Travessa da Boa Hora, em Lisboa, e envolveu dois elementos da PSP e um “cidadão suspeito de estar a causar perturbação da ordem e tranquilidade públicas“.
Segundo o comando metropolitano de Lisboa da PSP, em comunicado emitido no dia 15 de agosto de 2022, “no âmbito do patrulhamento no zona do Bairro Alto, em Lisboa, pelas 19h40 do dia 13 de agosto (sábado), uma patrulha da PSP foi informada por uma pessoa que ali circulava, que na travessa da Boa Hora (…) se encontrava um indivíduo com um comportamento agressivo para com as pessoas que por ali passavam, ameaçando-os e causando-lhes receio”.
Perante a informação de que dispunham, os polícias deslocaram-se ao local e “abordaram o cidadão suspeito para esclarecimento dos factos, tendo este uma atitude agressiva para com os polícias e negando a identificar-se”. Perante a recusa do indivíduo, o “mesmo foi informado que iria ser conduzido à esquadra para se proceder às diligências necessárias”. Foi nesse momento que “terá ficado mais agressivo, negando-se a acompanhar os polícias” e tentando “escapar e impedir à ação policial, utilizando ferros com intenção de os agredir”.
A PSP explicou ainda que os agentes “recorreram ao uso da força, incluindo através de bastão policial e já manietado conduziram o suspeito à esquadra, onde foi identificado, tendo saído daquela subunidade pelas 22h00”.
Imagens divulgadas após o esclarecimento da PSP revelaram que o sujeito empunhava barras de ferro, ameaçando com elas os polícias.
De acordo com a SIC Notícias, o homem era um velho conhecido da esquadra da PSP do Bairro Alto pelo histórico de comportamento violento para com moradores e turistas. Em declarações à referida estação de televisão, alegou ter sido provocado. Mais, disse estar desempregado e a viver da venda do ferro velho que encontrava na rua.
Segundo a versão do indivíduo, as duas barras de ferro estavam na sua mão no momento em que foi detido, mas nega ter ameaçado pessoas na rua. Uma versão que contradiz a da PSP que alega que o homem estaria alterado e a ameaçar quem passava na rua.
Aumento da criminalidade na capital?
Em julho de 2024, a PSP emitiu uma nota em que rejeitava um aumento da criminalidade violenta e grave nas freguesias de Santa Maria Maior, em Lisboa, e de Ramalde, no Porto, após uma onda de queixas de insegurança tanto por parte dos moradores como de autarcas.
Nessa mesma nota, a autoridade dizia ainda que é “importante esclarecer que o sentimento de segurança não se obtém exclusivamente com mais polícias na rua“, até porque “em termos de sentimento de segurança”, o que se denota é que “se há polícia é porque há insegurança”.
Contactada pelo Polígrafo em agosto deste ano, a propósito de declarações de Carlos Moedas sobre a criminalidade em Lisboa, a PSP frisou que, apesar das notícias que “referem um aumento do sentimento de insegurança em Lisboa, e em concreto na freguesia de Santa Maria Maior”, o que os indicadores estatísticos demonstram contraria esse sentimento.
Segundo os dados da força policial, na sua Área de Responsabilidade, verifica-se que “no 1.º semestre de 2024, houve uma diminuição da criminalidade geral denunciada no Comando Metropolitano de Lisboa (de 13,97%)”.
Quanto à freguesia de Santa Maria Maior, “considerando a análise realizada aos dados recolhidos, tanto a criminalidade geral como a criminalidade violenta e grave diminuíram, comparando com o período homólogo do ano transato”. Perante esta análise, a PSP considerou tratar-se “de um aumento substantivo do sentimento de insegurança” e não um aumento efetivo da insegurança ou criminalidade.
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Avaliação do Polígrafo: